As ondas de demissão em massa não são um fenômeno novo e vez ou outra aparecem mundo afora, colocando empregadores e funcionários em estado de alerta. A onda mais recente, iniciada no final de 2022, provocou um verdadeiro tsunami, que abalou as estruturas do mercado.
Só para se ter uma ideia, mais de 150 mil pessoas foram desligadas em 2023 na indústria de tecnologia global, de acordo com dados da plataforma Layoffs.fyi. Aqui no Brasil, o panorama não é diferente e não poupou nem mesmo as gigantes da tecnologia: entre janeiro e fevereiro deste ano, mais de 50 empresas anunciaram demissões em massa no país. Entre elas estão Nubank, Loggi, Enjoei, C6 Bank e até o Google!
É claro que um cenário de layoff (processo de demissão em massa), muitas vezes, é a última saída encontrada pela empresa para reparar possíveis problemas financeiros ou até mesmo estratégicos. Mas em casos como estes, como fica o bem-estar dos colaboradores que saem? Como lidar com as pessoas que ficam, mas sentem-se inseguras?
Neste artigo, selecionamos alguns dados importantes sobre o assunto e listamos dicas valiosas do que fazer neste tipo de situação. Vamos lá?
As possíveis causas da demissão em massa
De um modo geral, a demissão em massa é uma manobra utilizada desde o século XIX para manter a saúde financeira de uma empresa em dia. Mas as causas desse fenômeno podem ser variadas e dependem de cada contexto. Abaixo, listamos algumas das possíveis motivações de um layoff.
Economia
Se tomarmos o setor das big techs como exemplo, é possível observar que a economia foi uma das principais causas das ondas mais recentes de demissão em massa. Após praticamente duas décadas de investimentos astronômicos e crescimento acelerado no setor, especialistas apontam que o mercado inflou, e isso se tornou ainda mais evidente neste período de pós-pandemia. O contexto econômico incerto causado pela COVID-19 provocou juros altos e escassez de investidores na bolsa, fazendo com que as empresas repensassem e enxugassem suas atuações.
Demanda reduzida
Um outro ponto que pode influenciar a decisão por um layoff é a demanda reduzida por parte dos clientes. Uma demanda menor do que o habitual pode reduzir as vendas e impactar diretamente no fluxo de caixa de uma empresa. Nesses casos, as demissões podem ser uma estratégia para restaurar o equilíbrio das companhias.
Reestruturação interna
Uma reestruturação societária, por exemplo, pode acarretar na eliminação de cargos que se tornaram obsoletos e, consequentemente, em demissões em massa. Um exemplo simples disso é o caso da demissão de trabalhadores da linha de produção em uma empresa que acabou de introduzir processos automatizados e robóticos.
Mudança de produto ou serviço
Quando uma linha de produtos ou serviços de uma empresa evolui, são esperadas algumas mudanças organizacionais. Com isso, criam-se novas necessidades, como por exemplo a contratação de colaboradores atualizados ou mais qualificados para o cargo. Isso também pode ser um motivo para as demissões em massa.
As consequências da demissão em massa
Agora que já vimos as possíveis causas da demissão em massa, precisamos falar sobre os impactos negativos deste movimento para os colaboradores – tanto os que saem, quanto os que ficam.
Um dos resumos mais abrangentes de mais de 300 estudos sobre o assunto mostra um cenário nada animador. No geral, se comparadas às pessoas empregadas, pessoas desempregadas são mais aflitas, menos satisfeitas com suas vidas, casamentos e famílias, e mais propensas a relatar algum problema psicológico.
Além disso, pesquisa publicada na National Library of Medicine indica que, para funcionários sem condições de saúde pré-existentes, a probabilidade de desenvolver uma condição de saúde aumenta em 83% nos primeiros 15 a 18 meses após uma demissão. As condições mais comuns são aquelas relacionadas ao estresse, como hipertensão, doenças cardíacas e artrite.
Mas não são apenas os colaboradores demitidos que sofrem com esse movimento. Um estudo da FGV mostra que a insegurança no trabalho e o medo de ser demitido podem afetar diretamente a saúde mental e a produtividade. De acordo com a Insight Global, 54% dos colaboradores estão dispostos a aceitar um corte salarial para evitar uma possível demissão.
Efeitos duradouros
As demissões em massa não apenas prejudicam a saúde mental e o bem-estar das pessoas na força de trabalho, mas também podem estar mudando o comportamento dos funcionários no dia a dia. E, consequentemente, prejudicando o desenvolvimento de suas carreiras.
Um exemplo: alguém que está se sentindo inseguro no trabalho pode começar a fazer o mínimo necessário para permanecer no emprego, e ser mais cuidadoso com o que diz e faz. Essa pessoa fará o que for preciso para se camuflar e não ser notada. E isso também tem um efeito direto na criatividade dos colaboradores. Os funcionários que ficam tendem a ser mais cautelosos e menos inovadores. Afinal, ninguém quer fracassar.
Por fim, um layoff também traz consigo um risco de “debandada coletiva”. Quando uma demissão em massa acontece, há um risco de contágio nos colaboradores que ficaram na empresa. E, de acordo com este artigo, há uma probabilidade das saídas voluntárias serem 9.1% maiores nesses casos.
No caso dos colaboradores que foram desligados, existe um outro efeito a longo prazo que precisa ser considerado. Pesquisa do Labor Department’s analisa os efeitos da demissão na vida dos profissionais. A maioria deles estava pior um ano depois: apenas 41% encontraram trabalho com remuneração igual ou superior; 26% encontraram empregos com remuneração inferior; e outros 21% ainda estavam desempregados ou abandonaram totalmente a força de trabalho.
Um estudo da Universidade de Columbia que analisou funcionários que foram demitidos durante a recessão de 1982 mostrou que 20 anos depois eles ainda ganhavam 20% menos do que seus colegas que mantiveram seus empregos.
Como minimizar os impactos negativos de um layoff?
Busque alternativas
Antes de qualquer coisa, é bom ressaltar: as demissões em massa devem ser o último recurso de uma empresa. Antes de um movimento drástico como esse, é preciso explorar todas as opções e alternativas, como congelamento de novas contratações e promoções, redução de horas extras autorizadas, licenças e férias prolongadas. Como já mostramos anteriormente, as demissões em massa trazem consigo diversos riscos para o colaborador e para a própria empresa. Por isso, é essencial considerar cautelosamente se a companhia realmente precisa fazer esse movimento. Em caso afirmativo, a decisão deve ser tomada de maneira ética e socialmente responsável.
Planeje com antecedência
Um plano bem estruturado ajudará o time de RH e a empresa como um todo a minimizar os possíveis impactos negativos sobre os colaboradores e manter as operações do negócio. Inclua neste plano o cronograma, as estratégias de comunicação, e principalmente os critérios de seleção dos funcionários que serão demitidos. É necessário que todos da empresa tenham uma visão clara e objetiva do porquê isso está acontecendo e qual foi o critério escolhido. Estudos apontam que decisões de RH apoiadas na justiça tendem a diminuir os efeitos negativos das demissões em massa.
Não crie pânico
Mantenha a confidencialidade durante o processo de dispensa para evitar a criação de pânico e boatos de corredor. Durante o processo de compra do Twitter, por exemplo, o bilionário dono da Tesla, Elon Musk, fez declarações públicas sobre os cortes em sua força de trabalho antes de efetivamente fazê-los, o que gerou um clima de ansiedade e incertezas na empresa. Mas lembre-se: manter a confidencialidade não significa manter tudo em segredo. Em um momento como esse, ser transparente com todos os envolvidos é essencial.
Treine as lideranças
Assim como em qualquer outro grande movimento dentro de uma empresa, os líderes e gestores desempenham um papel crucial durante as demissões em massa. Por isso, se você faz parte do time de RH, ofereça treinamento aos gerentes sobre como lidar com esse momento de forma eficaz, incluindo o processo de comunicação aos funcionários. Isso ajuda a garantir que o processo seja realizado com empatia, ética e profissionalismo. Não se esqueça: os gestores também precisam saber como lidar com quem fica na empresa. Ou seja, manter a produtividade e o otimismo de todos, comunicar quaisquer mudanças na estratégia da empresa e por aí vai. Além disso, é válido lembrar que este é um momento delicado para todos da empresa, inclusive para os gestores. Antes de cuidar da equipe, eles precisam estar bem, preparados e confortáveis com essa situação. Então, inclua nos treinamentos um preparo especial para as lideranças.
Ofereça apoio
Fora os casos em que colaboradores demitidos encontram um novo emprego imediatamente após a demissão, eles sofrem por longos períodos com instabilidade emocional, falta de motivação e até mesmo depressão. Por isso, ofereça apoio e antecipe o aviso da dispensa. Ajude seus funcionários demitidos a encontrar novos empregos, aproveitando a flexibilidade e a conveniência das oportunidades de trabalho remoto. Avalie quais benefícios a empresa já oferece e são importantes para quem foi desligado: estímulo à prática de atividades físicas, cuidados com a saúde mental, desenvolvimento pessoal e profissional, ou quaisquer outros benefícios que vocês já ofereçam por aí. É dever do RH cuidar para que o pacote de benefícios continue sendo oferecido por um tempo para quem sai em um layoff.
Comunique-se de forma eficaz
Não se esqueça de traçar um plano de comunicação interna que contemple os critérios para decisão de cortes e de que forma a reestruturação pode impactar diretamente os departamentos e cargos. Neste momento, é essencial que os pilares da sua cultura organizacional estejam presentes e bem claros nessa comunicação. E por fim, lembre-se: provavelmente, seus maiores talentos não foram dispensados. Por isso, certifique-se de que essas pessoas serão ouvidas, acolhidas e apoiadas. Reforce os benefícios que estão disponíveis e podem auxiliá-las neste momento difícil. Benefícios que trazem mais bem-estar e aliviam a carga emocional, como prática de terapia e exercícios físicos, podem ser uma excelente saída.
Não se esqueça da SUA equipe
Bom, se você chegou até aqui é porque provavelmente faz parte da equipe de RH e está buscando os melhores caminhos para lidar com uma demissão em massa. Então, se esse realmente for o seu caso, não se esqueça de preparar a sua equipe para este momento e cuidar de todos após os desligamentos. Afinal, o RH também deve estar bem para conduzir o processo da melhor forma e seguir motivado. Uma alternativa possível é apostar em uma equipe de profissionais de fora da empresa para te auxiliar na condução do layoff. Isso com certeza te fará enxergar além do horizonte e encontrar novas estratégias e oportunidades. Após os desligamentos, reavalie alguns processos internos, planeje reuniões recorrentes para discutir como anda o bem-estar de todos e certifique-se de que as coisas estão caminhando da melhor forma, na medida do possível.
Postar um comentário