“Se vamos trabalhar mais de 100 mil horas ao longo de nossas vidas, ser feliz no trabalho me parece urgente e essencial.” É assim que Renata Rivetti, palestrante, consultora e especialista em felicidade no trabalho, resume a importância de buscar significado em nossa vida profissional.
Pesquisas apontam que o investimento em bem-estar dentro das empresas nunca foi tão alto. Mas será que isso tem gerado resultado? De acordo com este levantamento, 50% dos profissionais sentem-se engajados no trabalho. A outra metade sente-se sobrecarregada ou apática com seu atual emprego. Este outro estudo aponta que não se sentir feliz no trabalho é justificativa para pedido de demissão de 44% das pessoas.
Felicidade no trabalho ainda pode ser um tema abstrato para muita gente, mas uma coisa é certa: é um fator importantíssimo na decisão de permanecer ou não em um emprego.
Diretora da Reconnect Happiness at Work, Renata Rivetti traz à tona insights valiosos sobre como a felicidade no trabalho pode ser uma estratégia eficaz para retenção de talentos, aumento da produtividade e criação de um ambiente organizacional saudável.
Confira a entrevista completa abaixo
Vidalink: Você passou de uma carreira em marketing para se especializar em felicidade no trabalho. Como essa transição ocorreu e o que a motivou a explorar esse campo?
Renata: Eu gostava do que fazia no marketing, tinha boas relações e resultados, porém sentia falta de impactar mais pessoas e realizar algo com maior impacto no mundo. Iniciei os estudos da psicologia positiva e da ciência da felicidade em uma busca muito pessoal de autoconhecimento, mas aos poucos comecei a levar a mensagem para outras pessoas do que fazia sentido para mim.
Percebi que os ambientes das organizações, em sua maioria, eram tóxicos e que poderíamos começar essas discussões nas organizações. Como gerar resultados de forma mais saudável? Assim, fundei a Reconnect com o propósito de cocriarmos culturas mais saudáveis, com mais significado, saúde mental e bem-estar dos profissionais.
Vidalink: Nas suas experiências, quais os principais desafios que as empresas enfrentam ao tentar criar um ambiente onde a felicidade no trabalho seja uma realidade para todos os colaboradores?
Renata: Manter o tema como prioridade na agenda de todos. O projeto da felicidade no trabalho não pode ser pontual, não é uma implantação, mas sim algo contínuo. O desafio antes era desmistificar o tema e conscientizar os líderes de sua importância. Hoje, vejo que é garantir as ações sendo praticadas e principalmente torná-las hábitos e cultura da empresa.
Vidalink: A felicidade no trabalho muitas vezes é vista como algo subjetivo. Como as empresas podem medir efetivamente o nível de felicidade de seus colaboradores e usar esses dados para promover melhorias contínuas?
Renata: Na Reconnect Happiness at Work usamos o modelo workplace PERMA, que traz 5 aspectos para mensurarmos a felicidade no trabalho: emoções positivas, engajamento, relações positivas, significado e realizações.
Com o diagnóstico conseguimos entender melhor qual aspecto é mais desafiador na empresa e assim começar um plano de ação priorizando esses pontos identificados.
Vidalink: Você menciona a transformação de ambientes tóxicos em culturas positivas. Poderia compartilhar exemplos práticos de como uma organização pode realizar essa transformação de maneira eficaz?
Renata: O ambiente tóxico vem de ações no dia a dia que acabam com a autoestima das pessoas e também afetam sua saúde mental: são os abusos, assédios, desrespeito, falta de reconhecimento, falta de inclusão e equidade, entre outros. Precisamos primeiro conscientizar os líderes do seu impacto na saúde mental de seu time e depois capacitá-los com ferramentas para a mudança.
Não é nada disruptivo e sim construirmos um ambiente com segurança psicológica, reconhecimento e valorização das pessoas, escuta ativa, equidade e inclusão, ajudar o time a encontrar seus pontos fortes, harmonia entre vida pessoal e profissional. É simples, mas difícil de mantermos a prática.
Vidalink: Muitas organizações lutam contra o burnout, mesmo com programas de bem-estar implementados. Quais são os equívocos comuns que podem impedir a eficácia desses programas, e o que as empresas podem fazer de diferente para combater o burnout e questões de saúde mental de forma mais eficaz?
Renata: Normalmente as empresas atuam tratando os sintomas e não a causa raiz. Não adianta oferecermos programas se não atuamos nas ações práticas que comentei. É preciso construir segurança psicológica e melhores relações, além de pensarmos em novas formas de combater a sobrecarga. Sem essas mudanças não há solução sustentável.
Vidalink: Qual é a abordagem mais eficaz que você encontrou para integrar programas de bem-estar à cultura da empresa?
Renata: Apresentar dados, discutir o problema. Toda empresa tem uma dor, seja baixa produtividade, baixo engajamento, alto turnover. Precisamos olhar para isso e saber que a mudança é longa e dependerá de muito esforço. Mas é preciso começar o quanto antes, pois o custo de não priorizarmos o bem-estar dos colaboradores tem sido muito alto.
Vidalink: Você discutiu a responsabilidade individual na felicidade corporativa. Como as organizações e lideranças podem incentivar os funcionários a assumirem essa responsabilidade sem que pareça uma carga extra em suas atividades diárias?
Renata: Não adianta esperar um mundo perfeito para sermos felizes. O mundo ideal só existe no Instagram, a vida real é cheia de obstáculos e desafios e mesmo assim, para nós que temos as necessidades básicas atendidas, podemos ser felizes.
Felicidade tem a ver com a jornada, com uma construção de aspectos positivos, de significado, de boas relações. E todos podemos e merecemos construir esses caminhos. Não precisamos seguir uma fórmula mágica ou ter obrigações, mas é encontrar em nosso dia a dia uma vida que faça sentido, com hábitos positivos e um grupo de apoio.
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