3 projeções para as iniciativas corporativas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI)
No segundo dia de SXSW 2024, o tema Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) ganhou destaque através do painel “Forecasting Workplace: The Changing Landscape of DEI“, liderado por Janice Gassam Asare, fundadora da BWG Business Solutions, e Leah Goodridge, advogada de movimento e escritora em direitos de moradia e justiça racial.
As painelistas apresentaram três projeções principais para o futuro do DEI no ambiente de trabalho. Uma delas é o movimento contra a retaliação de políticas de DEI. Nos últimos anos, figuras conhecidas do mundo empresarial têm se posicionado contra essas políticas, alegando que elas podem ser, na verdade, uma forma de discriminação. Essa resistência tem um impacto negativo, pois algumas empresas começam a reduzir os investimentos em programas de DEI, temendo controvérsias ou por não verem essas ações como prioritárias.
Outro ponto abordado foi a necessidade de ir além dos workshops de diversidade, instigando uma mudança significativa na cultura organizacional. Muitas vezes, as empresas pagam por workshops, mas não fazem as mudanças necessárias e culpam o DEI pela falta de resultados. A diversidade existirá independentemente da existência de programas formais, mas é a estrutura e cultura organizacional que definirá a acolhida dessa diversidade no ambiente de trabalho.
Por fim, o painel também explorou o papel da inteligência artificial (IA) como uma ferramenta potencial para auxiliar nos programas de DEI, desde a identificação de vieses em descrições de cargos até a análise de padrões em cartas de demissão, sublinhando que a IA pode suportar, mas não substitui a necessidade de lideranças comprometidas com a promoção de uma cultura diversa e inclusiva.
Case de sucesso: cultura de bem-estar não é antagonista a resultados
Ed Bastian, CEO da Delta Airlines, e José Andrés, CEO do José Andrés Group, compartilharam seus cases de sucesso em um dos painéis mais inspiradores do SXSW 2024, “People First, Always – How to Put Values at the Heart of Your Business“. Após a crise que passou em 2005, a Delta Air Lines, teve uma notável jornada até retornar seu crescimento. O ponto de virada foi a transformação cultural, com destaque para a importância de envolver os colaboradores. Uma das principais ações foi a criação de grupos de 300 pessoas, feitos para discutir o negócio, planejar o futuro e celebrar. Hoje, mais de 20 anos depois, essa prática continua na organização e o método manteve sua eficácia.
Bastian enfatizou que a cultura vai além do superficial, sendo moldada por valores fundamentais. Ele expressou orgulho ao afirmar que os colaboradores estão empoderados para tomar decisões, eliminando a necessidade de chamá-lo para resolver problemas. Durante a pandemia de COVID-19, a Delta enfrentou um desafio sem precedentes, mas Bastian, vulnerável e deprimido pela perda da mãe no mesmo período, destacou a importância de liderar com empatia, apoiando pessoas e trazendo confiança.
Neste período, a Delta adotou medidas proativas, como planos de demissão voluntária e flexibilidade para clientes, perdendo receitas, mas mantendo a confiança no ato de viajar. A preocupação genuína com colaboradores e clientes não apenas gerou confiança, mas também superou concorrentes em vendas e receitas. Bastian ressaltou que pensar em pessoas é lucrativo, começando com o cuidado dos colaboradores, e destacou a incongruência de uma marca forte quando experiências ruins são vividas.
José Andrés, CEO do José Andrés Group, seguiu com a importância de sua missão de proporcionar acesso a comida e água a todas as pessoas. Criador da World Central Kitchen após o terremoto no Haiti e atualmente apoiando os atingidos pela guerra em Gaza, ele ressaltou que, para manter colaboradores engajados, é essencial que a missão e os valores da empresa sejam incorporados no dia a dia por todos.
O painel concluiu que uma cultura empresarial eficaz é aquela que se manifesta nas ações do dia a dia, com uma liderança que encoraja a empatia e o engajamento, servindo como base para o sucesso sustentável.
Redefinindo o futuro do trabalho: Geração Z e o novo paradigma profissional
O painel “Gen Z at Work: Corporate ladder or career playground?” abordou as nuances da Geração Z no ambiente de trabalho, destacando como suas preferências e experiências estão moldando uma nova perspectiva corporativa. Gali Arnon da Fiverr, Valerie Capers Workman da Headshake e Novo Constare da Indeed Flex compartilharam seus insights sobre o que essa geração busca em termos de carreira e ambiente de trabalho.
Em primeiro lugar, vale destacar que a Geração Z é marcada por experiências como a pandemia e a recessão econômica, e por isso tem uma visão distinta sobre estabilidade e flexibilidade, desejando ambas simultaneamente em seus empregos. Eles prezam pela capacidade de controlar suas vidas e destinos, aspirando ser seus próprios chefes e almejando estabilidade financeira, com cerca de 70% considerando o freelancing como uma opção de carreira viável.
Além disso, outros números chamam a atenção:
- 44% valorizam a estabilidade financeira.
- 22% querem se aposentar cedo.
- 80% dos recém-formados já sentem sintomas de burnout.
- 70% desejam trabalhar em empresas que alinhem com seus valores e tenham lideranças diversas
Essa geração valoriza a transparência e quer ter clareza sobre salários e benefícios antes mesmo de se candidatarem a uma vaga, demonstrando um interesse particular em benefícios relacionados a bem-estar. A promoção da saúde mental foi destacada como um aspecto crucial, com os jovens profissionais esperando que as empresas ofereçam suportes formais e efetivos nessa área.
De acordo com os painelistas, o equilíbrio entre vida pessoal e profissional é primordial para a Geração Z, que redefine o conceito de “work-life balance”, desejando não ter que inventar desculpas para desfrutar de tempo livre. Eles entendem que dedicação ao trabalho não necessariamente se traduz em longas horas no escritório, especialmente quando a tecnologia permite maior eficiência e produtividade.
A Geração Z está trazendo uma nova dinâmica para o local de trabalho, com expectativas que desafiam as normas tradicionais e enfatizam a flexibilidade, o desenvolvimento pessoal e profissional, e um forte alinhamento entre os valores individuais e os das organizações para as quais escolhem trabalhar. As empresas que desejam atrair, engajar e reter talentos dessa geração precisarão adaptar-se a essas novas realidades, promovendo um ambiente que acolha suas necessidades e aspirações.
Como a neuroflexibilidade está moldando o futuro do trabalho
Durante o quarto dia do SXSW 2024, o painel “The Future of the Workplace Is Neuroflexible” trouxe insights sobre a importância da neuroflexibilidade nos ambientes corporativos. Tom Polucci e Kay Sargent, diretores da HOK, exploraram como os espaços de trabalho podem ser adaptados para apoiar a neurodiversidade e promover o bem-estar dos colaboradores.
Polucci introduziu o conceito de neuroflexibilidade, explicando que se trata da capacidade de ajustar pensamentos, comportamentos e reações conforme o ambiente, destacando sua relevância em contextos de inovação e colaboração. Ele também abordou a neurodivergência no local de trabalho, mencionando que muitos profissionais podem não estar cientes de suas próprias características neurodivergentes.
Sargent ressaltou a influência do design dos espaços na vida dos colaboradores, indicando como diferentes configurações podem atender às necessidades variadas de indivíduos hipersensíveis e outros grupos, enfatizando a necessidade de espaços que engajem e estimulem a participação.
“A geração mais jovem, certamente optará por espaços tecnológicos e modernos. As mulheres tendem a precisar de mais estimulação visual, mas desde que seja algo ordenado. Se for caótico e desordenado, não será positivo. Os homens tendem a ter menos sensibilidade em relação ao seu entorno, são menos sensíveis”, destacaram durante o painel.
Nossa enviada especial, Renata Rivetti, destaca que o painel ofereceu uma nova perspectiva sobre como a adaptação dos ambientes físicos é essencial para construir um futuro de trabalho inclusivo, especialmente considerando a integração de colaboradores neurodivergentes.
Flexibilidade e eficiência: um novo olhar sobre o escritório e o trabalho
Se tem uma coisa que o SXSW 2024 nos ensinou é que, com certeza, o trabalho não será mais visto da mesma forma que o vimos nas últimas décadas. E isso ficou ainda mais evidente durante o painel “The Future of Work Doesn’t Care Where You Work“. que proporcionou uma visão profunda sobre a necessidade de evolução nos modelos de trabalho atuais.
Annie Dean, VP Team Anywhere da Atlassian, destacou como a pandemia acelerou a transição para o trabalho híbrido e remoto, expondo lacunas significativas na preparação das empresas para essa mudança. Quando a covid-19 nos forçou a adotar o trabalho remoto, muitas organizações se viram despreparadas. A falta de um planejamento estruturado resultou em jornadas de trabalho mais longas, em parte devido à dificuldade de separar a vida profissional da pessoal em um ambiente doméstico. Além disso, o aumento substancial de reuniões, muitas vezes improdutivas, evidenciou a necessidade de repensar como nos comunicamos e colaboramos à distância.
Dean destacou que as novas gerações já adotam uma perspectiva diferente sobre o trabalho, valorizando a eficiência e os resultados em detrimento das horas trabalhadas. O escritório continua sendo relevante para certas interações, mas o trabalho remoto oferece a oportunidade para foco e planejamento individual. Por fim, a painelista apresentou quatro razões principais para a flexibilização do trabalho: concentração nas atividades que geram resultados, acesso a talentos diversos, eficiência operacional e um planejamento mais controlado e criativo.
O futuro do trabalho demanda uma liderança que compreenda a importância da clareza de metas e do apoio ao desenvolvimento individual e coletivo. Esta nova abordagem ao trabalho não é apenas uma resposta à pandemia, mas uma evolução necessária para criar ambientes de trabalho mais humanizados, produtivos e sustentáveis.
Desenhando o futuro corporativo: reflexões e estratégias
Conduzida por Amy Webb, futurista renomada e CEO do Future Today Institute, e Melanie Subin, diretora da FTI, a palestra “Exploring your organization’s future” foi uma das mais aguardadas do SXSW 2024. As especialistas mergulharam nas nuances do futuro do trabalho, oferecendo às lideranças insights interessantes para impulsionar o crescimento de suas organizações e identificar oportunidades e ameaças.
Durante o painel, Webb enfatizou a importância de uma abordagem estratégica para lidar com as incertezas do futuro do trabalho. Ela argumentou que, embora a automação e a inteligência artificial sejam tendências dominantes, a evolução humana e as mudanças comportamentais também são essenciais para moldar o ambiente corporativo do futuro.
As especialistas apresentaram um framework estruturado para auxiliar as lideranças na construção de um futuro proativo no ambiente de trabalho, que inclui etapas como definir uma visão clara, questionar sua relevância, decidir sobre ações práticas, e desenhar e implementar um plano detalhado.
Webb também aconselhou as empresas a realizar uma análise SWOT abrangente, envolvendo toda a equipe para fomentar um ambiente de colaboração e inovação. Ela destacou a importância da segurança psicológica no local de trabalho, essencial para promover a confiança, a colaboração e o bem-estar emocional, o que, por sua vez, influencia positivamente a capacidade da organização de inovar e prosperar.
O futuro do trabalho é uma construção que deve começar hoje, com um planejamento estratégico que leve em consideração não apenas as tendências tecnológicas, mas também o desenvolvimento humano e uma cultura organizacional que priorize o bem-estar e a colaboração para garantir a adaptabilidade e a competitividade no longo prazo.
Inteligência Artificial e a necessidade de atualização das lideranças
No ano em que a Inteligência Artificial ganhou uma trilha específica no SXSW, era de se esperar que este fosse um dos temas mais discutidos durante o evento. No painel “AI Isn’t Coming for Your Job, But Those Using It Will”, especialistas debateram como a IA pode contribuir para a economia global, enquanto apontaram que apenas 30% das empresas estão explorando seu potencial.
Tom Ajello, da Lipppincot, destacou que a IA tem potencial para adicionar trilhões à economia global, mas requer que as lideranças se atualizem e abracem uma cultura colaborativa. É fundamental que as empresas não apenas adotem novas tecnologias, mas também promovam o desenvolvimento pessoal e profissional de seus colaboradores.
O painel também explorou a simplificação da jornada de inovação, com a IA atuando como facilitadora na curadoria e síntese de informações, melhorando a eficiência e a experiência do consumidor e do colaborador. Além disso, foram discutidos os limites éticos do uso da IA, especialmente no que tange aos direitos autorais e à proteção de dados.
Outro ponto chave foi a visão orientada ao futuro, com as empresas sendo incentivadas a antecipar inovações e necessidades, adotando um planejamento que olhe além do imediato. E, por fim, o painel ressaltou a importância de um mindset colaborativo nas organizações, onde a IA não é vista como uma ameaça, mas como uma aliada para explorar novas oportunidades e formas de trabalho.
O futuro do trabalho com a IA não é apenas sobre adotar novas tecnologias, mas também sobre promover uma transformação cultural que valorize a experimentação, o aprendizado e a colaboração, visando um ambiente de trabalho mais sustentável e produtivo.
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