“Se continuarmos tratando a diversidade de forma superficial, estaremos repetindo os mesmos erros do passado. Precisamos mais do que discutir, é hora de AGIR”. É assim que Verônica Vassalo, Gerente de Diversidade, Equidade e Inclusão do Pacto Global da ONU, resume a urgência de uma mudança real nas iniciativas de DE&I nas empresas.
Em uma conversa com a Vidalink, Verônica compartilhou os insights do mais recente levantamento do Pacto Global, feito em parceria com o Ceert. A pesquisa trouxe à tona uma realidade que não pode mais ser ignorada: apesar das políticas de diversidade, as mulheres brancas ainda são as mais beneficiadas, enquanto outras minorias seguem lutando por espaço, especialmente nos cargos de liderança.
Verônica também falou sobre como evitar o greenwashing e a importância de promover ações que realmente façam a diferença no dia a dia das organizações, garantindo inclusão de verdade. Confira a entrevista completa e entenda como as empresas podem agir agora para construir ambientes mais diversos e inclusivos.
Quais foram os principais achados do levantamento? Há algum dado específico que tenha te surpreendido ou trazido novos insights sobre as ações de DE&I nas empresas brasileiras?
O estudo revela o cenário atual das organizações e destaca a urgente necessidade de avançarmos nas questões de DE&I nas empresas. O principal desafio identificado pelas empresas é o engajamento das lideranças, apontado por 57% delas como a maior dificuldade.
Outro dado relevante que a pesquisa traz é que, quando se trata de gênero, ainda predomina um único perfil: o de mulheres brancas. É fundamental que as ações tenham um olhar mais inclusivo, considerando as interseccionalidades.
Ou seja, é imprescindível que essa diversidade seja refletida e respeitada em todas as iniciativas.
Quais são os fatores que você acredita estarem por trás desse fenômeno, e o que as empresas podem fazer para garantir que outras minorias também sejam beneficiadas de maneira equitativa?
É essencial compreender e valorizar as interseccionalidades nesses contextos. A categoria “mulheres” é diversa, englobando mulheres negras, trans, com mais de 60 anos, LGBTIAP+, PcDs, entre outras.
Ao refletirmos sobre essa diversidade, lembramos do célebre discurso de Sojourner Truth, proferido em 1851, em Akron, Ohio, durante a Convenção pelos Direitos das Mulheres. Neste evento, que reunia mulheres brancas e negras, Sojourner fez a famosa pergunta: “E eu não sou uma mulher?”, destacando a necessidade de incluir todas as mulheres nas discussões sobre direitos e igualdade.
Na sua opinião, quais são os principais sinais de greenwashing no campo da diversidade, e como as empresas podem evitar cair nessa armadilha ao implementar políticas de ESG e DE&I genuínas?
O secretário-geral da ONU, António Guterres, declarou em 2020 que estamos na “Década da Ação”, e é urgente agir agora para construir um futuro inclusivo e sustentável para todas as pessoas. Nos ambientes corporativos, muitos dos desafios estão relacionados à dificuldade de acompanhar as rápidas e intensas transformações do mercado. Vivemos em uma era globalizada, que exige constante adaptação às novas e aceleradas demandas do mercado competitivo, e, para isso, precisamos nos preparar para acompanhar a velocidade dessas mudanças.
Nunca se falou tanto em DE&I nas empresas. De acordo com a pesquisa da Randstad (2015), 87% dos profissionais no mundo valorizam a diversidade, e no Brasil esse número chega a 91%. A diversidade está diretamente ligada ao respeito, à melhoria nas relações de trabalho, ao bem-estar e à produtividade.
Embora o tema seja amplamente discutido, é essencial refletir sobre a qualidade dessas discussões. Se continuarmos tratando a diversidade de forma superficial, estaremos repetindo os mesmos erros do passado. Falar sobre diversidade é uma questão séria, e precisamos mais do que discutir; é hora de AGIR.
Os desafios são muitos e o tempo é curto. A diversidade não é apenas uma questão social e/ou legal, mas também uma demanda de negócios. Empresas que não compreenderem isso estarão em risco de perder competitividade e de serem preteridas pelo consumidor, que cobra delas engajamento com as causas com que se identificam, em um mundo cada vez mais diverso e inclusivo.
Olhando para o futuro das políticas corporativas, como o Pacto Global da ONU pretende acompanhar o progresso nas empresas no que se refere ao ESG, especialmente nas dimensões sociais e de governança? Existem novos indicadores ou mecanismos de acompanhamento sendo desenvolvidos?
Em 2022, o Pacto Global da ONU – Rede Brasil, a maior rede de sustentabilidade corporativa do mundo, lançou a Ambição 2030, uma iniciativa composta por dez Movimentos estratégicos, criados para acelerar o alcance das metas da Agenda 2030 da ONU. Atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) é uma prioridade global, e o engajamento do setor privado é fundamental para o sucesso dessa missão.
Os Movimentos incluem: Mente em Foco, Elas Lideram 2030, +Água, Salário Digno, Raça é Prioridade, Ambição Net Zero, Transparência 100%, Conexão Circular, Impacto Amazônia e Educa2030. Eles abordam temas como saúde, direitos humanos, clima, acesso à água e combate à corrupção.
Esses Movimentos representam um chamado da Rede Brasil às empresas brasileiras para que reconheçam a urgência de promover ações concretas, estabelecendo metas claras e assumindo compromissos públicos. A Rede Brasil atua como uma plataforma para projetos e ações que impactam positivamente a sociedade, fortalecendo os compromissos empresariais por meio do engajamento das lideranças do setor privado. A adesão é gratuita, permitindo que as empresas participem de todos os Movimentos.
O Pacto Global realiza anualmente o monitoramento de dados públicos empresariais relacionados à Agenda 2030. Os indicadores analisados são de empresas com atuação no Brasil, organizados a partir dos seguintes critérios: (1) empresas listadas na Bolsa de Valores, (2) que reportam nos padrões do Global Reporting Initiative (GRI) e (3) participantes do Pacto Global. Esses dados são reunidos no Relatório Ambição 2030, uma publicação que revela os indicadores das empresas comprometidas com os Movimentos da estratégia voltada para acelerar o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
O relatório reúne ações e indicadores dos 10 Movimentos destacados anteriormente, apresentando o progresso da Ambição 2030 e retratando o quanto ainda podemos contribuir para acelerar a transição necessária rumo a um planeta mais justo e sustentável. Ele reforça que o avanço só é possível por meio de metas ambiciosas e nos lembra que, embora tenhamos feito progressos, ainda há um longo caminho a percorrer.
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