Véspera de feriado, há poucos minutos para a saída da empresa, um gestor precisa de alguém para uma tarefa urgente. Eis que um colaborador, que sempre está à disposição, fica com o trabalho, mesmo sabendo que vai passar o feriado atarefado. A cena é, infelizmente, corriqueira em muitas organizações, porém, pode comprometer – e muito – a saúde mental dos chamados “funcionários 24/7”.
Não é raro observar profissionais que buscam sempre atender às necessidades da empresa a qualquer custo. Largam mão de uma atividade pessoal para atender uma demanda de trabalho, não conseguem dizer “não” para o chefe e tampouco deixam de levar alguma tarefa para casa.
Mas o que são “funcionários 24/7”?
Um dia tem 24 horas e a semana é composta por sete dias. O conceito de “funcionário 24/7”, portanto, representa aquele colaborador que está disposto a trabalhar e se manter disponível para a empresa em período integral. A busca incessante pela satisfação dos líderes e pelo cumprimento das metas estabelecidas faz com que muitos desses profissionais não consigam dizer “não”.
O papel da tecnologia no desenvolvimento de “funcionários 24/7”
No contexto tecnológico em que vivemos hoje, onde não há mais barreiras físicas entre trabalho e vida pessoal, o perfil do “funcionário 24/7” só tende a crescer.
Para Antônio Fernando Gomes Alves, professor e gestor do Curso Superior de Tecnologia em Recursos Humanos da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), “com o advento das ferramentas de tecnologia, os espaços privado e público se confundem, não havendo mais a separação da vida cotidiana de cada ser humano. O termo ‘funcionário 24/7’ está associado às pessoas que trabalham ininterruptamente e também aos ‘workaholics’, ou seja, que, pela lógica do capitalismo, trabalham continuamente, sem interrupção.”
Grupos de trabalho em aplicativos de mensagens como o WhatsApp e o fácil acesso a computadores e smartphones, por exemplo, são alguns dos recursos que abrem caminho para que colaboradores com essas características apareçam cada vez mais nas empresas.
Os riscos à saúde mental dos “funcionários 24/7”
As organizações, claro, exercem um papel crucial no desenvolvimento desse perfil de profissional e também acabam “sofrendo” com isso. “As lideranças esquecem que funcionários doentes resultam em atestados e afastamentos que comprometem a entrega de bons resultados e provocam até mesmo uma perda econômica”, ressalta Alves.
A pessoa com perfil 24/7 não percebe, mas a cada “não” que não diz, a cada trabalho que leva para casa e a cada hora a mais trabalhada, a sua saúde física e emocional é comprometida. A curto prazo, os efeitos negativos são:
- Aumento de ansiedade;
- Taquicardia;
- Estresse físico e emocional.
A longo prazo, todo o desgaste sofrido pode acarretar em:
- Síndrome de Burnout;
- Afastamento;
- Absenteísmo;
- Queda de produtividade;
- Não cumprimento de tarefas;
- Atraso de entregas;
- Resultados abaixo da média do colaborador;
- Depressão;
- Retrabalho de tarefas feitas às pressas;
- Comprometimento do trabalho em equipe;
- Afastamento da vida familiar.
O que a empresa pode fazer para apoiar “funcionários 24/7”
Com algumas ações simples, as empresas podem ajudar o “funcionário 24/7” a deixar, aos poucos, algumas de suas principais características de lado para, então, passar a ter equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.
Manter uma gestão humanizada
Gestores que recebem treinamentos sobre gestão humanizada costumam entender melhor os prejuízos provocados pelo excesso de trabalho dos “funcionários 24/7”. Por isso, podem – e devem – orientá-los a encontrar o equilíbrio.
Estabelecer horários
Pode parecer exagero, mas “funcionários 24/7” podem trabalhar horas a fio, mesmo sob alta pressão e estresse, apenas para cumprir o que lhes foi determinado.
Portanto, cabe às lideranças das empresas limitarem os horários para que profissionais com esse perfil entreguem o que puderem, dentro do período estabelecido, sem prejuízos à sua saúde física e mental.
Não ter uma relação abusiva com o colaborador
“As organizações precisam cuidar dos trabalhadores para que eles possam trabalhar num ritmo regular. A melhor postura da gestão é rever processos de modo que não atropelem as entregas e que possam realizar as atividades para entregar bons resultados”, avalia o professor da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS).
Investir em programas de bem-estar
Parte importante da política de benefícios corporativos, os programas de bem-estar são muito eficientes quando o assunto é a manutenção da saúde mental do colaborador. “Eles precisam ser aliados da política de Recursos Humanos da empresa, promovendo a integração e o debate para exercícios voltados ao equilíbrio emocional e físico do trabalhador”, ressalta Alves.
Ter planejamento para todos os setores
A organização que faz um bom planejamento evita “funcionários 24/7” porque trabalha com prazos e metas estabelecidos de acordo com cada área. Dessa forma, as famosas tarefas “para ontem” praticamente não aparecem, o que favorece a saúde mental dos colaboradores.
“Não podemos esquecer de que ‘tudo que é urgente não foi planejado’. Portanto, a gestão tem a incumbência de programar e atualizar fluxos e processos de trabalho condizentes com a carga de trabalho e a cobrança por resultados esperados dos funcionários”, conclui.
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