Se você é uma daquelas pessoas que não perde um conteúdo da Vidalink, com certeza já deve ter lido nosso artigo sobre bem-estar das mulheres no mercado de trabalho. Neste estudo, mostramos que muita coisa mudou (e pra melhor!) nos últimos anos, mas ainda temos um longo caminho pela frente. E quando paramos para refletir sobre a condição de mulheres mães, fica ainda mais evidente que a luta está só começando.
Tripla jornada de trabalho, falta de reconhecimento, preconceito, discriminação e desigualdade salarial são apenas alguns dos desafios enfrentados diariamente por elas. No mês em que comemoramos nacionalmente o Dia das Mães, debater a questão da maternidade no mercado de trabalho e procurar soluções para garantir às mulheres o apoio necessário é fundamental.
Vamos nessa?
Um breve panorama sobre as mães no mercado de trabalho
De acordo com a lei trabalhista brasileira, a licença-maternidade é um direito que garante 120 dias de afastamento para as mães, começando no primeiro dia útil após o nascimento da criança. Essa é a regra geral, embora esse período possa ser prorrogado mediante recomendação médica.
Já para os pais, a licença paternidade prevê um período de apenas 5 dias – caso a empresa esteja cadastrada no programa Empresa Cidadã, a licença pode ser estendida para 20 dias. Por si só, essa discrepância ilustra muito bem o cenário de divisão desigual das responsabilidades envolvidas nos cuidados com um bebê recém-nascido.
Além do benefício da licença-maternidade, a Lei 14.020 também prevê que as mulheres tenham estabilidade de emprego desde a confirmação da gravidez até 5 meses após o parto.
Uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas, no entanto, mostra que quase 50% das mulheres foram demitidas aproximadamente 2 anos após a licença-maternidade. Além disso, o estudo ainda aponta que a maioria das saídas do mercado de trabalho são instigadas pelo empregador, sem justa causa.
O levantamento “Maternidade e Mercado de Trabalho”, realizado pelo portal VAGAS.com, confirmou esse cenário nada animador: mais da metade das mães (52%) que ficaram grávidas ou saíram em licença-maternidade em seu último emprego passaram por alguma situação ruim na empresa. Comentários desagradáveis (23,7%), demissão (19,9%) e falta de empatia (16,9%) estão entre os principais relatos levantados pela pesquisa. 45,9% das entrevistadas também relataram que sofreram discriminação dos colegas. Além disso, as mulheres também sofreram com exclusão de projetos, redução da carga horária e do salário e substituição.
Um problema estrutural
Essas dificuldades no ambiente de trabalho repercutem não apenas em quem já é mãe, mas também em quem planeja ser. Já mostramos aqui em nosso blog que as buscas por “congelamento de óvulos” no Google cresceram 89% nos últimos cinco anos. Ou seja: mesmo as mulheres que querem ter filhos ainda sentem a necessidade de adiar a maternidade por receio de perder oportunidades de trabalho.
De acordo com o levantamento da VAGAS.com, 70% das entrevistadas disseram que não pretendem ter filhos nos próximos anos. Dentre elas, 43% afirmam que a decisão é por conta da dificuldade de conseguir um emprego e se manter no mercado de trabalho. E para entender um pouquinho desse sentimento, basta ser mulher e já ter participado de uma entrevista de emprego.
“Você pretende ser mãe?”
“Vai deixar com quem pra trabalhar?”
“Se ficar doente, quem vai cuidar dele?”
À primeira vista, essas perguntas podem ser inofensivas, mas no fundo revelam que características pessoais, como ser mãe, ainda contribuem para que mulheres sejam negadas para uma contratação, aumento ou promoção.
E fora do Brasil?
Não, as dificuldades enfrentadas por mulheres e mães não são exclusivas da realidade brasileira, e podem ser vistas em praticamente todo o mundo. Na União Europeia, por exemplo, as mulheres ainda ganham 16% menos do que os homens.
Pesquisa publicada pelo College Voor de Richten van de Mens, na Holanda, aponta que 43% das mulheres já foram discriminadas no mercado de trabalho durante a gravidez. No total, 1.150 mulheres que deram à luz nos últimos quatro anos participaram da pesquisa, que ainda traz outros dados importantes:
1 em cada 5 mulheres foi rejeitada nas candidaturas devido à gravidez, maternidade ou desejo de ter filhos.
- 1 em cada 3 mulheres que estavam prestes a assinar um novo contrato disse que as condições mudaram ou foram rejeitadas no último minuto por causa de sua gravidez.
- 49% das mulheres em trabalhos temporários não tiveram seus contratos renovados por causa de sua gravidez.
Como oferecer o apoio necessário?
Diante de tantos desafios, é papel dos líderes e RHs repensar a cultura organizacional para aumentar a presença feminina no mercado de trabalho e também dar o apoio necessário para as mulheres e mães. Vale lembrar que mesmo em organizações que já oferecem um espaço aberto para o crescimento profissional das mães, ainda existem barreiras que dificultam o desenvolvimento.
O estudo Licença Parental nas Melhores Empresas para Trabalhar, da consultoria Great Place to Work, identificou que 47% das mulheres abriram mão de oportunidades de promoção em sua própria empresa. O motivo: elas teriam dificuldades para conciliar a rotina de casa com as demandas que a oportunidade exigia.
Ou seja, o esforço por parte das empresas deve ser contínuo e efetivo. Vamos a algumas dicas?
No processo seletivo, foque no que realmente importa
Muitas vezes, o preconceito e a discriminação começam já no processo de seleção e recrutamento. Como dissemos anteriormente, perguntas indelicadas sobre maternidade ainda são muito comuns em algumas empresas. Não custa lembrar: nesta etapa, foque no que realmente importa. Ou seja, habilidades, competências e fit cultural do candidato.
Ofereça apoio desde o início
Quem é mãe sabe: os desafios de conciliar trabalho e maternidade começam desde os primeiros dias de gestação. Por isso, garantir segurança, apoio e estabilidade desde o início é fundamental. A mulher precisará cumprir todo o pré-natal, então lembre-se de proporcionar mais flexibilidade para sua rotina de trabalho. No caso de trabalho presencial, atente-se também para a ergonomia, já que é essencial adequar o espaço de trabalho de modo que a colaboradora grávida sinta-se mais confortável e acolhida. Não se esqueça de que o aleitamento materno é recomendado até os dois anos de idade, mas na maior parte dos casos, as mães precisam voltar a trabalhar antes desse período. Por isso, forneça um espaço especial para que as mães lactantes realizem a retirada e a estocagem de leite, que será oferecido à criança em outro momento.
Amplie a política de benefícios
De acordo com o levantamento da FGV, as mães que cumprem 6 meses de licença-maternidade (2 meses a mais do que o estipulado pela lei) tendem a permanecer em suas funções por mais tempo quando retornam. No entanto, a licença deve vir acompanhada de outras políticas e benefícios, como auxílio-creche, pré-escola, por exemplo. Desenvolva programas para tratar de assuntos relacionados à gestação e à saúde mental, como ansiedade e depressão, por exemplo. Outra ideia interessante é apoiar a colaboradora no que diz respeito à sua alimentação, oferecendo suporte de nutricionistas e um plano alimentar de acordo com suas necessidades.
Estimule a empatia e o acolhimento
Por muitos anos, nos foi vendida uma imagem da mãe “mulher-maravilha”, heroína. Não que essa imagem não seja verdadeira. Mas as mães são muito mais do que simplesmente guerreiras. Mães também choram, também sentem-se inseguras, precisam de abraço, de um bom dia, de um carinho. Muitas vezes, o cansaço e o esgotamento fazem parte do dia a dia delas. Por isso, estimule a empatia para que todas sintam-se acolhidas e abraçadas por sua empresa. A discriminação e o preconceito não podem e nem devem ser tolerados, e isso precisa fazer parte da política interna da sua companhia.
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