
O Setembro Amarelo 2025 é um período que nos convida a uma profunda reflexão sobre a saúde mental, um tema que ganha contornos ainda mais urgentes no ambiente corporativo. Esse ano, a campanha chega em um momento crítico: um levantamento recente da VR revelou um aumento de 28% no número médio de afastamentos por saúde mental no primeiro trimestre de 2025, em comparação com a média de 2024.
Por trás desse número, existem pessoas exaustas, líderes sobrecarregados e empresas tentando encontrar respostas. É um chamado claro para que o RH e a gestão assumam um papel ativo no cuidado com suas equipes.
Panorama atual: ansiedade no centro do problema
O estudo da VR, que analisou uma base de mais de 1,2 milhão de trabalhadores, aponta que a ansiedade, em suas diversas formas, foi responsável por mais de 90% dos atestados médicos no início de 2025. Os diagnósticos mais comuns incluem:
– Episódios de ansiedade (57%)
– Transtorno de ansiedade generalizada (18%)
– Transtorno misto ansioso e depressivo (17%)
Em paralelo, os números do Ministério da Previdência Social reforçam ainda mais a gravidade do cenário: foram mais de 470 mil afastamentos do trabalho por transtornos mentais em 2024, o maior índice desde 2014. Esse dado representa uma alta de 68% em relação a 2023 e confirma que o Brasil vive uma crise de saúde mental sem precedentes, com efeitos que extrapolam o campo individual e atingem diretamente a produtividade, os custos e a sustentabilidade das empresas.
Esses números deixam evidente que, apesar dos avanços na conscientização sobre saúde mental, o desafio de construir ambientes de trabalho realmente saudáveis ainda é enorme. Para o RH, isso significa ir além de campanhas pontuais no Setembro Amarelo 2025. É assumir um papel ativo na transformação da cultura organizacional, colocando o bem-estar contínuo como parte da estratégia da empresa e não como ação temporária.
O impacto financeiro para as empresas
A crise de saúde mental atinge pessoas e balanços. Ignorar o tema significa arcar com custos diretos e indiretos que corroem produtividade e resultados.
– Prejuízo anual bilionário: No Brasil, os transtornos mentais e comportamentais geram um prejuízo de quase R$ 400 bilhões por ano para as empresas, considerando a perda de produtividade e os custos com saúde.
– Custo por afastamento: Cada afastamento por questões de saúde mental tem um custo médio de R$ 1,9 mil por mês para o INSS, com uma duração média de três meses, totalizando um impacto que supera R$ 3 bilhões em 2024.
– Perda de produtividade global: A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a depressão e a ansiedade custam à economia global US$ 1 trilhão por ano em perda de produtividade.
Esses números deixam claro que investir em saúde mental não deve ser visto como despesa, mas sim como um investimento estratégico com retorno mensurável (ROI). Empresas que estruturam programas consistentes de bem-estar conseguem reduzir significativamente o absenteísmo, evitando longos períodos de afastamento; diminuem a rotatividade, retendo talentos que poderiam se perder para o mercado; e controlam os custos com planos de saúde, já que colaboradores mais saudáveis demandam menos atendimentos de urgência.
Além disso, os ganhos intangíveis são igualmente poderosos: maior engajamento, equipes mais produtivas e um clima organizacional positivo, que favorece inovação e colaboração. Em outras palavras, cuidar da saúde mental é proteger a performance da empresa hoje e garantir sua sustentabilidade no futuro.
Estratégias de prevenção e mitigação: o papel do RH
Para mitigar esses custos e, mais importante, construir um ambiente de trabalho saudável, o RH deve atuar de forma proativa e estratégica. As ações vão muito além de campanhas sazonais e devem estar integradas à cultura da empresa.
1. diagnóstico e análise de dados
Pesquisas de clima: Realize pesquisas regulares e anônimas para medir o nível de bem-estar, estresse e satisfação dos colaboradores.
Análise de indicadores: Monitore taxas de absenteísmo, rotatividade (turnover) e presenteísmo (quando o colaborador está presente, mas não produz adequadamente). Esses dados são fundamentais para identificar áreas críticas.
2. cultura de segurança psicológica
Comunicação aberta: Crie canais seguros e confidenciais para que os colaboradores possam expressar suas preocupações sem medo de retaliação.
Capacitação de lideranças: Treine gestores para que saibam identificar sinais de esgotamento, oferecer apoio empático e conduzir conversas difíceis. Líderes são o principal ponto de contato e têm um papel crucial na promoção de um microambiente saudável.
3. programas de apoio e benefícios
Acesso facilitado à saúde mental: Ofereça benefícios que incluem acesso a psicólogos e plano de medicamentos, como a Vidalink.
Políticas de flexibilidade: promova um equilíbrio saudável entre vida pessoal e profissional com políticas de home office, horários flexíveis e folgas para questões de saúde mental. Um ambiente de trabalho flexível demonstra confiança e cuidado.
4. ações de conscientização e educação
Comunicação contínua: Mantenha a saúde mental como pauta durante todo o ano, com workshops, palestras e materiais educativos sobre gestão de estresse, ansiedade e prevenção ao burnout.
Desmistificação do tema: Promova rodas de conversa e compartilhe histórias que ajudem a quebrar o estigma associado aos transtornos mentais.
Ações de comunicação interna para o Setembro Amarelo 2025 (e além)
Para que a mensagem de cuidado com a saúde mental ressoe em toda a organização, a comunicação interna desempenha um papel crucial. Algumas sugestões práticas:
- Campanhas visuais: crie cartazes, banners e infográficos com informações claras e objetivas sobre saúde mental, disponíveis em murais, intranets e e-mails. Utilize a cor amarela e elementos visuais que transmitam esperança e apoio.
- Conteúdo educativo: desenvolva uma série de artigos, posts para a intranet ou newsletters com dicas de autocuidado, informações sobre transtornos mentais e depoimentos (anonimizados, se necessário) de superação.
- Webinars e palestras: organize eventos online ou presenciais com especialistas em saúde mental, psicólogos e psiquiatras. Aborde temas como manejo do estresse, prevenção do burnout e a importância de buscar ajuda.
- Canais de apoio visíveis: divulgue de forma clara e acessível os canais de apoio disponíveis na empresa, como programas de assistência ao empregado (PAE), convênios com psicólogos e informações sobre o CVV (Centro de Valorização da Vida).
- Desafios e atividades de bem-estar: promova desafios de mindfulness, meditação guiada, ou atividades físicas que incentivem o cuidado com a saúde mental e o bem-estar geral.
- Histórias de sucesso: compartilhe histórias de colaboradores que superaram desafios relacionados à saúde mental, destacando a importância do apoio e da busca por tratamento. Isso pode inspirar outros a procurarem ajuda.
A hora de agir é agora
Por trás dos números de afastamentos, existem histórias de sobrecarga, silêncio e cansaço. O Setembro Amarelo 2025 é o convite para mudar essa realidade: abrir espaço para acolher, oferecer apoio e construir ambientes mais humanos.
Investir em saúde mental é investir em gente, e isso sempre retorna em forma de equipes mais engajadas, criativas e leais. Cuidar das pessoas é mais do que responsabilidade corporativa: é um ato de humanidade que fortalece vínculos e salva vidas.
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