Engana-se quem imagina que trabalhar sem parar aumenta a produtividade. Entenda os riscos de não descansar e como reverter este quadro
Líderes inspiradores estão cada vez mais preocupados com a qualidade de vida de seus funcionários. Boa notícia, não é mesmo?
A performance no trabalho depende de um fator vital que muitas vezes subjugamos: o descanso. Ele é vital para uma melhor saúde mental, maior concentração e memória, um sistema imunológico mais saudável, redução do estresse, melhora do humor e até mesmo um melhor metabolismo.
Então se há pouco tempo era comum gestores pensarem em permitir cada vez menos descanso e férias para suas equipes, hoje é fundamental que todos entendam o enorme valor disso para a saúde integral dos profissionais. A partir daí ficam mais fáceis as mudanças significativas que podem, de fato, mudar para melhor a vida das pessoas.
Atualmente já se sabe a real importância do descanso e das férias. Sempre existe uma pressão no mundo corporativo para que os colaboradores produzam mais e melhor. E entreguem resultados acima das expectativas.
Acreditar que é preciso estar disponível 24 horas por dia e nos 7 dias da semana acaba gerando culpa e tensão entre os colaboradores, ameaçando sua saúde mental. Uma das consequências disso é a falta da chamada segurança psicológica no ambiente de trabalho e suas repercussões negativas em negócios de todas as naturezas.
Mas o que é segurança psicológica no trabalho? É a crença de que não haverá punição caso a pessoa não responda um e-mail do seu gestor na mesma hora ou não comente uma mensagem de Whatsapp do chefe em pleno domingo, por exemplo. Daniel Paredes, co-fundador do Já Vendeu.com comenta:
“No começo da minha carreira, comecei a estagiar numa startup e todos os líderes da empresa trabalhavam muito, chegavam cedo e saiam super tarde, algumas vezes depois da meia noite. Naquela época, eu sentia a pressão de que eu devia trabalhar igual para me destacar e ser efetivado. Por outro lado, eu não tinha muita vida fora do trabalho. Então decidi tirar umas férias longas que foram incríveis! A partir daí nunca deixei de tirar férias, inclusive até mais de 30 dias por ano.”
Cérebro livre para fazer conexões nunca antes feitas
Talvez você mesmo já tenha postergado suas férias. Ou conheça gente que sempre faz isso. Os cancelamentos de períodos para desfrutar um tempo em casa mesmo com a família ou viajar para perto ou longe são comuns, mas não deveriam.
O descanso para recarregar as baterias é crucial. Para saúde integral, maior qualidade de vida e até para exercitar o cérebro. Veja o que John Doherty, fundador da Credo e EditorNinja relata em um dos seus artigos no Linkedin: “Há 6 anos e meio fui demitido depois de férias. Quatros anos e meio atrás escrevi uma atualização sobre essa experiência. Algumas pessoas disseram que eu não deveria ter tirado férias. Essa é uma mentalidade tóxica. Não peço desculpas por tirar férias”.E ele continua:
“Na verdade, vou embora amanhã para o México por 9 dias. De férias. Meu cérebro precisa dessas pausas. Meus maiores avanços nos negócios ocorrem durante estas pausas. Porque meu cérebro fica livre para fazer conexões que nunca fez antes. Seja a pessoa que tira férias porque isso é bom para sua saúde mental e para os negócios.”
Há muitos funcionários que acham que tudo bem o trabalho continuar. Porém, essa é uma conclusão equivocada. Estudos recentes comprovam: o desempenho profissional por extensos períodos sem boas paradas para relaxar e descansar não significa maior e melhor produtividade. Pelo contrário, é um perigo, principalmente, no aspecto da saúde mental.
Quando o descanso e as férias vão sendo sempre adiados
Quando alguém não descansa o suficiente e fica sempre adiando férias devido ao excesso de trabalho ou medo de perder o emprego, o organismo passa a comunicar de alguma forma que algo não vai bem.
A pessoa pode sentir dores localizadas, perder o sono ou peso e ter dificuldade de se concentrar em tarefas que eram anteriormente realizadas quase que automaticamente. O sistema nervoso, por exemplo, se ressente e começa a dar sinais de exaustão.
Muitas pesquisas, aliás, vêm demonstrando que jovens e adultos têm dormido cada vez menos. O estresse causado por tudo isso pode acarretar diversos efeitos negativos que impedem a concentração, a capacidade de análise e o sono reconfortante. Além de outros sintomas que mostram que corpo e mente estão pedindo socorro.
Este estado das coisas faz com que os níveis de disfunção, que muitas vezes passam despercebidos, se acumulem. Neste cenário, os casos de Burnout se multiplicam.
Está na hora de motivar e incentivar o merecido descanso e as férias para cada um e para todos. Independentemente de funções ou cargos.
Segundo Luciano Santos, autor do livro “Seja Egoísta com a sua carreira”, mentor de carreiras, produtor de conteúdo e palestrante:
“Quando o assunto é férias, eu sempre lembro da frase de um amigo sobre a famosa venda dos 10 dias “nunca venda o que você não pode comprar”. Brincadeiras à parte, sabemos que tirar férias vai muito além de simplesmente parar, passar tempo com a família, etc, a mudança de rotina ajuda a oxigenar o cérebro, ter atenção a outros aspectos da vida (às vezes negligenciados), descansar, e, quando retornamos, é como se a nossa “bateria” interna voltasse para 100%. Para mim, tirar férias é fazer de você mesmo um profissional melhor e mais produtivo.”
O descanso que precisamos nos torna mais conscientes
Dan Doty, co-fundador do EVRYMAN diz que após centenas de dias liderando viagens e vivendo no deserto, um dos maiores presentes que recebeu foi a compreensão visceral sobre como nossas necessidades básicas são atendidas. Ele conta que um dos princípios básicos que é fácil de administrar na floresta, mas não em casa, é o descanso.
“Quando você está carregando uma mochila pesadona por uma cordilheira, parar e descansar não é opcional. Você só tem que estar pronto. Quando suas pernas estão queimando e você está sugando o vento, o instinto animal toma conta e você simplesmente para. Seu corpo está gritando no final de um dia longo e difícil, e você simplesmente mal pode esperar para entrar em seu saco de dormir.”
Sem Netflix ou cerveja para distrair, em regiões inóspitas, a necessidade de descanso é tão real que ninguém se entregaria a esses luxos, mesmo que os tivesse. O equilíbrio entre esforço e descanso é claro e muito natural.
“No dia a dia do trabalho, as coisas são diferentes. Nossas mentes comandam o show. E o corpo não fica tão cansado quanto numa trilha. O descanso é complicado. Na floresta, é fácil ver que quando você não descansa bem toma decisões ruins e age como um idiota. Isso pode mudar e tudo começa quando você se permitir às paradas estratégicas. Quando temos o descanso que precisamos, podemos nos tornar mais conscientes do que nosso corpo precisa.”
O poder do tempo para o descanso
Doty não está sozinho ao dar tanto valor ao descanso e férias. Um artigo publicado na Harvard Business Review, publicação da Harvard que objetiva a reflexão inteligente sobre as melhores práticas na gestão de negócios, relata a experiência da empresa Kronos.
Ela utiliza uma das ferramentas que as organizações têm para levar mais bem-estar aos colaboradores e maior produtividade. De acordo com seu CEO, Aron Ain, a Kronos adotou uma nova política de RH relacionada às férias. O descanso remunerado ilimitado vem sendo totalmente indicado e praticado, proporcionando aos funcionários a possibilidade de escolher quando e por quanto tempo tiram folga.
Inicialmente, o executivo imaginou que os mais jovens seriam os mais entusiasmados e beneficiados com uma política menos burocrática, a de férias abertas. No entanto, os funcionários entre 30 e 40 anos, com filhos em idade escolar, foram os que mais aderiram e se beneficiaram com a novidade.
Em média, os funcionários da companhia tiveram 2,6 dias de folga a mais do que estavam acostumados antes desse plano de bem-estar corporativo. Os resultados financeiros da empresa no ano da implantação foi o melhor de sua história. Segundo o CEO, não se tratou de uma coincidência.
“Funcionários felizes e engajados podem tornar uma empresa mais lucrativa. Podemos provar isso com dados concretos. Acompanhamos o engajamento dos funcionários por 15 anos e, alguns anos antes da adoção da nova política, a parcela de funcionários que concordaram ou concordaram fortemente que a Kronos era um ótimo lugar para trabalhar estava estagnada em 84%. Um ano após o lançamento do myTime, o engajamento aumentou para 87%.”
E mais: nenhum funcionário abusou das novas regras e nenhum cliente foi afetado negativamente. Aron Ain conta, ainda, que a rotatividade voluntária caiu de 6,4% para 5,6%. “Comentários de funcionários num site onde muitos candidatos a emprego usam para pesquisar empregadores em potencial, expressam sentimentos positivos sobre a política.”
Plano de bem-estar corporativo: a hora é agora
Que tal adotar agora um plano de bem-estar corporativo na sua empresa que, além de saúde mental, trata de questões relacionadas à alimentação saudável e atividade física? Pense nisso. A hora é agora. Tenha mais um motivo para atrair talentos, alavancar produtividade e reter os funcionários atuais.
Se você gostou deste artigo, vai gostar também de saber sobre o app de atividade física que ajuda os colaboradores a manter seu bem-estar!
Luciano Santos é escritor e autor do livro “Seja Egoísta com a sua carreira”, mentor de carreiras, produtor de conteúdo e palestrante. Tem +23 anos de experiência executiva no meio digital, tendo passado por empresas como Google, UOL e Facebook. Ele escreve diariamente sobre educação corporativa e mundo do trabalho, responde perguntas de seus leitores no LinkedIn e Instagram com o perfil @lucianoresponde, alimenta um canal de vídeos no YouTube e possui uma coluna mensal na revista HSM chamada Divã Corporativo.
Daniel Paredes é co-fundador de duas empresas, como CPO e Growth. Atualmente atua como gerente de dados com experiência em empresas de tecnologia de todos os tamanhos (GetNinjas, Uber, OLX, Liv Up).
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