“Diariamente converso com executivos de RHs de empresas de grande porte, e a minha sensação é a de que eles ainda se sentem inseguros em relação a esse tema. A verdade é que a diversidade etária abraça todas as outras. Todos, independente do gênero, da etnia, da deficiência ou se pertencem ao grupo LGBTQIA+, querem ter uma longevidade produtiva, equilibrada e feliz”.
É assim que Mauro Wainstock, especialista em diversidade etária, enxerga a importância da integração geracional no ambiente corporativo.
Sócio-fundador da consultoria HUB 40+, membro do Instituto Brasileiro de ESG e colunista da Exame, ele falou ao blog da Vidalink sobre como a inclusão de diferentes gerações pode enriquecer a cultura empresarial, estimular a inovação e fortalecer o engajamento dos colaboradores.
Confira a entrevista completa abaixo
Vidalink: Como surgiu o interesse no tema Diversidade Etária?
Mauro: Tenho 55 anos e, há mais de 30, produzo e publico biografias, contribuindo, através destes livros, que legados pessoais e profissionais sirvam de exemplo e inspiração para outras gerações e para a sociedade como um todo.
Mais recentemente participei, e o meu grupo foi o vencedor, do Startup Weekend, hackathon que propicia valiosas trocas de conhecimentos e experiência entre as gerações. A partir deste momento intensifiquei o meu trabalho sobre este tema e lancei uma consultoria para estimular o respeito e a valorização de profissionais de todas as idades, através de um ambiente corporativo harmônico, saudável e estimulante.
Vidalink: Quais são os principais desafios enfrentados por colaboradores 40+ no ambiente corporativo atual?
Mauro: A discriminação etária é vivenciada por mais de 55% dos profissionais no mundo, de acordo com recente estudo do portal DiversityInc. No Brasil, o portal Infojobs constatou através de pesquisa que 70% dos profissionais acima dos 40 anos já sofreram preconceito devido à idade.
Estes lamentáveis índices levaram a The Encore Network, uma comunidade norte- americana presente em outros 11 países, a produzir o “Age-Friendly Employers Guide”, um documento que desmistifica os vários mitos sobre o tema. Destaco:
- Mito: Trabalhadores mais velhos têm desempenho pior que os jovens.
- Verdade: Levantamentos realizados em diversos países concluíram exatamente o oposto. Os mais velhos, em sua maioria, apresentam performance melhor que os jovens porque têm mais experiência e cometem menos erros. Possuem habilidades sociais mais desenvolvidas e maior controle emocional.
- Mito: A mão de obra sênior não é capaz de aprender ou se manter atualizada.
- Verdade: Curiosidade, interesse e capacidade de aprendizado não sofrem mudança significativa ao longo da vida, o que se aplica à habilidade de lidar com a tecnologia, que vem sendo incorporada pelos mais velhos nos últimos anos com crescente desenvoltura.
- Mito: Os mais velhos são menos engajados e é maior a chance de abandonarem o emprego.
- Verdade: É o contrário! Eles faltam menos, são mais leais e menos propensos a trocar de emprego.
- Mito: A mão de obra madura é mais cara.
- Verdade: Atributos como maior produtividade e um leque de conexões, somado a um conhecimento institucional mais amplo, são contribuições de enorme valor para qualquer empresa, que compensam o custo mais alto de alguns benefícios. E a lealdade é um outro fator importante: menos rotatividade representa menos encargos trabalhistas.
Vidalink: Como a integração geracional pode impactar positivamente a cultura e o ambiente de uma empresa?
Mauro: Incluir harmonicamente as gerações no ambiente corporativo não é mais uma vontade momentânea ou uma estratégia midiática, mas uma ação que deve ser incentivada genuinamente pelo líder ambidestro – aquele que exige a entrega de resultados hoje e, paralelamente, antecipa futuros.
E, faço questão de lembrar, o envelhecimento populacional está entre as megatendências para o século XXI. A inclusão real aprofunda o senso de pertencimento, permite a retenção maior dos colaboradores e traz uma dinâmica positiva de criatividade e adaptabilidade.
Pesquisas também apontam que empresas que valorizam e promovem a convivência agregadora entre trabalhadores de variadas idades alcançam resultados financeiros significativamente melhores em comparação com aquelas que não investem neste quesito.
Não se trata apenas de números, mas também de criar um ambiente de trabalho inclusivo e colaborativo, onde todas as gerações se sintam empoderadas e capazes de lidar com os desafios complexos do mercado.
Vidalink: Qual é a importância da equidade na jornada de bem-estar corporativo e como isso beneficia a organização como um todo?
Mauro: A liderança deve se engajar efetivamente e mobilizar a equipe para o entendimento de que a integração geracional genuinamente harmônica vai propiciar debates mais enriquecedores, soluções mais criativas, uma cultura organizacional inclusiva e riscos mitigados, resultando, no final das contas, em uma marca empregadora mais fortalecida e em resultados financeiros mais pujantes.
Entre as ações que sugerimos estão:
- Crie um programa de onboarding para funcionários sobre a cultura e os valores da empresa, mas vá além: deixe claro as regras, linguagem a ser utilizada e formas de atuar no quesito diversidade através de guias e treinamentos sobre o tema. A educação é primordial; o engajamento, imprescindível.
- Construa um ambiente de trabalho acolhedor que atenda aos anseios das diferentes gerações, como trabalho remoto, horários de trabalho flexíveis e programas de bem- estar personalizados. Equilíbrio é fundamental; a saúde mental é uma necessidade.
- Promova o intercâmbio constante entre as gerações, seja através de palestras, eventos, squads, hackathons, rodas de conversas e programas de mentorias bilaterais. Integração é sinônimo de criatividade e propicia o surgimento de inovadoras soluções.
- Valorize os variados conhecimentos e experiências. Cada geração possui características únicas e diferenciadas que podem ser extremamente valiosas para a empresa. A consciência se transforma em respeito; a inclusão em lucratividade.
- Disponibilize cursos para o aprimoramento de habilidades comportamentais dos colaboradores e consultorias internas individuais que os ajudem a construir uma carreira crescente e sustentável. Sem possibilidade de evoluir, não há motivação.
- Implemente a “escuta ativa” através de constantes pesquisas, de canais amigáveis de comunicação e ferramentas de denúncias. Métricas são fundamentais, ouvir e atuar concretamente faz a diferença.
Vidalink: Como um pacote de benefícios mais flexível pode ajudar na inclusão e retenção de talentos 40+?
Mauro: Com a longevidade, este diálogo precisa ser intensificado. Vou dar um exemplo: hoje mencionamos a “geração sanduíche”, que há pouco tempo não existia: ela precisa cuidar dos filhos e dos pais simultaneamente. E ainda trabalhar.
O que este grupo realmente precisa? De ajuda para atender as questões de saúde das gerações mais velhas? De tempo e flexibilidade? De autonomia e liberdade? De capacitação para ser um profissional ainda mais qualificado?
É necessário ouvir as suas atuais demandas, que certamente são diferentes das de outras gerações. Por outro lado, 76% das residências brasileiras são sustentadas pelos 50+. Neste sentido, a inserção deste público no mundo corporativo é uma necessidade premente, tanto em termos emocionais e familiares, como sócio-econômicos.
Vidalink: Como as organizações podem medir a eficácia de um programa de benefícios voltado para a inclusão de colaboradores 40+?
Mauro: Os 40+ trazem maturidade, experiência, são menos propensos a trocarem de emprego e possibilitam que haja uma valiosa troca de conhecimentos e experiências entre as gerações. A adequada integração deste segmento etário no mercado de trabalho, inclusive no ecossistema startupeiro e inovador, é um caminho natural e irreversível, ainda mais se considerarmos as qualificações técnicas deste grupo etário, o relacionamento construído em vários anos de carreira e as vivências práticas acumuladas ao longo da vida profissional, além de suas notórias soft skills.
A pluralidade na questão etária deve ser cada vez mais intensificada. Um relatório divulgado pela Universidade de Stanford revelou que 72% dos funcionários consideram importante a variedade geracional, enquanto um levantamento realizado pela Glassdoor destacou que 67% dos candidatos acreditam que a diversidade é um fator diferencial ao escolher um local para trabalhar. Por sua vez, a pesquisa The Deloitte Global Millennial Survey reforçou que as empresas com culturas inclusivas e diversificadas são mais atraentes para os jovens talentos, aumentando sua capacidade de recrutamento e retenção.
O resultado será avaliado na melhora do clima organizacional, no aumento da produtividade, no fortalecimento da marca empregadora e na redução do índice de turnover.
Vidalink: Quais tendências você acredita que moldarão a forma como as empresas abordam o bem-estar e os benefícios dos colaboradores?
Mauro: Diariamente converso com executivos de RHs de empresas de grande porte, inclusive multinacionais, e a minha sensação é a de que eles ainda se sentem inseguros em relação a este tema. Consideram tão relevante quanto as outras diversidades, mas ainda não a priorizam, talvez por ela ainda não ter conquistado a mesma projeção do que as demais, já que outras causas, todas igualmente pertinentes e legítimas, têm atuado há muito mais tempo.
Um diretor de uma das principais empresas globais de tecnologia me confidenciou: “Antes de criar mais um pilar, preciso avançar mais nos demais”. No entanto, é justamente a diversidade etária que abraça as outras. Todos, independente do gênero, da raça, da deficiência ou se pertencem ao grupo LGBTQIA+, querem ter uma longevidade produtiva, equilibrada e feliz.
Mas isto começa a mudar: nos últimos meses tenho recebido um número crescente de solicitações para ministrar palestras in company, bem como convites para conceder entrevistas sobre este tema. A longevidade das empresas e a satisfação do profissional estão atreladas. Relações saudáveis dependem do respeito e da admiração mútuos.
Mauro Wainstock é Linkedin TOP VOICE, colunista da Exame, sócio-fundador da consultoria HUB 40+ (diversidade etária e integração geracional) e membro do Instituto Brasileiro de ESG, além de mentor de executivos, conselheiro e consultor de empresas, professor da ESPM (RJ/SP) e da Exame Corporate Education.
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