Desde o início da pandemia do novo coronavírus em 2020, o mercado de trabalho brasileiro tem passado por constantes transformações. Muitas delas, inclusive, têm ressaltado a importância do desenvolvimento de novas habilidades por parte dos profissionais daqui para a frente.
Segundo dados do relatório anual da Workana, plataforma que conecta freelancers a empresas, as chamadas soft skills – conjunto de competências ligadas ao comportamento humano que faz a diferença nas relações dentro do ambiente de trabalho – serão tão importantes quanto as competências técnicas no mundo pós-pandemia.
Dentre as habilidades que devem ser cada vez mais valorizadas pelas organizações, estão:
- Pensamento ágil, focado em soluções;
- Rápida adaptação às mudanças;
- Alto compromisso com as tarefas;
- Inovação;
- Boa gestão do tempo e de tarefas.
“Acredito que esta lista faz muito sentido porque se tratam, sobretudo, de competências que vêm sendo solicitadas há alguns anos. Incluiria apenas o pensamento crítico, pois as competências elencadas comunicam claramente um mundo de intensas e rápidas mudanças, que exige maior comprometimento e organização dos profissionais para responder às demandas, sobretudo em um ambiente de maior autonomia. O pensamento crítico permite uma análise mais profunda das mudanças, permitindo que, além de se adaptar a elas, a organização possa ser promotora das inovações no mercado. Adicionalmente, essa competência afasta a adoção de respostas que não fazem sentido no contexto específico daquele profissional ou daquela organização”, afirma Gustavo de Souza Borges, psicólogo organizacional e recrutador especializado em Diversidade e Inclusão Étnico-Racial.
Qual a importância de desenvolver soft skills daqui para frente?
As habilidades sociais que estão ligadas tanto ao comportamento como, especialmente, à inteligência emocional estavam sendo destacadas há alguns anos. Mas, como dissemos, com a pandemia, elas ganharam mais importância para empresas e colaboradores.
E de acordo com o especialista, as soft skills vão cada vez mais ser requisitadas e se consolidar no ambiente corporativo como premissas para admissões.
“É importante ressaltar que a pandemia em alguma medida trouxe novas tendências, mas, principalmente, acelerou processos que já estavam em andamento, como a transformação digital, o aumento da prática do home office, com times dispersos geograficamente, dentre outras tendências. Muitas dessas mudanças aceleradas pela pandemia devem se consolidar e tanto colaboradores quanto empresas vão ter que se adaptar ao novo cenário, assim como entender o que essas mudanças significam, não de forma geral para a sociedade, mas, principalmente, de forma específica em seu negócio ou carreira. Para essa adaptação e reflexão, o desenvolvimento das soft skills, seja no nível individual ou organizacional, será fundamental. ”
Como os RHs e os próprios profissionais podem identificar as soft skills desejáveis no pós-pandemia?
Para facilitar processos de recrutamento e treinamentos internos, os RHs devem identificar as soft skills a partir de alguns critérios.
- A curiosidade do profissional para aprender mais sobre a própria atuação ou sobre temas paralelos que possam agregar valor;
- Como os colaboradores atuam quando detectam problemas em processos dos quais não são responsáveis – atuam em time, buscam assumir a responsabilidade ou apenas se afastam da dificuldade detectada.
“Para identificá-las nos processos seletivos, as principais ferramentas continuam sendo entrevistas por competências e a realização de dinâmicas desenhadas para propiciar a manifestação dessas habilidades. No cotidiano do trabalho, após a contratação, a exposição a desafios novos e equipes multidisciplinares pode tanto ajudar a identificar as competências quanto desenvolvê-las”, indica Borges.
Como as empresas podem potencializar habilidades pessoais dos colaboradores, inclusive no home office?
Ainda que o modelo de trabalho híbrido seja uma realidade para muitas empresas, para outras, o home office já é algo definitivo. Nesse contexto, procurar meios para garantir que o desenvolvimento de soft skills seja feito a distância e de forma efetiva pelos profissionais é fundamental.
“No que diz respeito às organizações que manterão o trabalho remoto total, entender quais são os impactos nessas e em outras habilidades e quais são as ferramentas para minimizar ou eliminar esse impacto é importante. Para citar dois impactos, a dificuldade em colaborar, sobretudo com membros externos ao time de trabalho deve ser avaliada, pensando nas competências ‘inovação’, ‘ter um pensamento ágil focado em soluções’ e ‘rápida adaptação às mudanças’. No que se refere às competências ‘ownership (compromisso com tarefas)’ e ‘gestão de tempo e tarefas’, o principal desafio mapeado é o limite entre horário de trabalho e o horário disponibilizado para os demais aspectos da vida. Já que no que se refere às organizações que optaram pelo trabalho remoto parcial, entender qual o melhor uso das diferentes atuações poderá aumentar os benefícios das duas formas de atuação. Adicionalmente, as organizações precisam atentar-se a aspectos, sobretudo culturais, que historicamente dificultaram a realização do trabalho remoto, como tomar decisões importantes apenas com os profissionais presentes no escritório, ou ainda avaliar a competência ‘ownership (compromisso com tarefa)’ com base apenas na escolha de atuar do escritório ou de casa”, conclui.
Postar um comentário