Provavelmente, todos nós já tivemos a oportunidade de conhecer no ambiente de trabalho, um profissional que é o primeiro a chegar e o último a sair e que responde e-mails de madrugada e aos finais de semana. Esse era o exemplo de quem vestia a camisa da empresa. Mas as novas gerações questionam cada vez mais esse modelo e não desejam ser esse profissional. E com total razão!
A ISMA-BR (International Stress Management Association no Brasil) realizou uma série de estudos que apontaram que 70% dos brasileiros sofrem com algum grau de estresse. Considerando uma população de mais de 100 milhões de trabalhadores, é fácil estimar os impactos desses números. A pesquisa também comparou esses níveis em diversos países, e o Brasil ficou atrás apenas do Japão no quesito alto nível de estresse dos colaboradores. Mais um ponto: a maioria dos profissionais relaciona o estresse com o trabalho e, das pessoas que sofrem com o problema, 30% desenvolveram a Síndrome de Burnout.
O sintoma típico dessa doença é a sensação de esgotamento físico e emocional, porém o Burnout pode se apresentar de inúmeras outras formas também, como ausências no trabalho, agressividade, isolamento, mudanças bruscas de humor, dificuldade de concentração, lapsos de memória, pessimismo e baixa autoestima. Além de sintomas comportamentais ou psicológicos, os indivíduos podem também apresentar sinais físicos como enxaqueca, cansaço, palpitação, pressão alta, dores musculares ou insônia.
Burnout é caro
Além do custo pessoal do Burnout, há também o impacto financeiro para as empresas, já que um funcionário doente tende a se afastar mais e produzir menos. A ISMA – BR calculou que a falta de produtividade causada pela exaustão gera prejuízo de 3,5% ao PIB (Produto Interno Bruto), conforme cálculos feitos em 2016.
Apesar de a Síndrome de Burnout já estar descrita no Código Internacional de Doenças (CID 10), o diagnóstico não é tão simples, já que os sintomas se confundem com o estresse do dia a dia e, na maioria das vezes, são pouco valorizados por quem sofre do problema.
Alguns estudos apontam que, aproximadamente, 90% dos indivíduos que sofrem da Síndrome de Burnout preenchem critérios para depressão, doença que atinge mais de 320 milhões de indivíduos ao redor do mundo (4,4% da população). Atualmente, é uma das doenças mais incapacitantes e cresce constantemente, entre 2005 e 2015 os casos aumentaram 18%. Fora a estimativa que mais da metade dos indivíduos que sofrem de depressão podem não saber da doença. Não tenho pesquisa que comprove, mas o mesmo provavelmente pode acontecer com a Síndrome de Burnout.
O tratamento dessas condições, seja a Síndrome de Burnout ou depressão, envolve uma série de ações que precisam ser combinadas, para que uma melhora permanente do paciente possa ser atingida. O acompanhamento médico e psicoterápico aliado a medidas não medicamentosas, como terapia e atividade física, são de extrema importância, porém, muitas vezes o uso de medicamentos é fundamental para ter uma melhora ou mesmo a cura.
Levando-se em conta a relação próxima entre Burnout e depressão, somado ao fato que muitas vezes essas doenças têm causas profissionais e interferem diretamente na produtividade do paciente, durante 12 meses conduzi um estudo, junto à Vidalink, com 15.306 pessoas que tinham plano de saúde corporativo, na faixa de 31 a 55 anos, para analisar fatores que poderiam ter um impacto positivo na adesão ao tratamento da depressão, dentre eles o subsídio na compra de medicamentos.
Constatamos que o número de pacientes com depressão e boa adesão ao tratamento aumentou 2,5 vezes nas empresas que oferecem subsídio de 50%, se comparado àqueles que não possuíam este benefício. Sem o apoio na compra de medicamentos, apenas 20% dos pacientes com depressão demonstraram uma boa adesão ao tratamento medicamentoso.
Assim, alerto que as empresas devem estar atentas a todos os aspectos da saúde de seus colaboradores, sejam eles físicos ou emocionais, só assim são capazes de trabalhar de forma efetiva e oferecer melhor qualidade de vida a eles. Só estudando e conhecendo a fundo a população que será possível oferecer os cuidados que eles realmente estejam precisando.
Artigo escrito por Rafael Canineu, diretor médico da Vidalink, empresa especialista em planos de medicamentos, que há 18 anos apoia as companhias e seus funcionários na busca por saúde.
O conteúdo também foi publicado no Portal Mundo RH.
Postar um comentário