Neste ano, adotar o home office não foi uma escolha voluntária para a maioria das empresas, embora tenha sido uma medida extremamente necessária para evitar a proliferação do novo coronavírus. A tecnologia, claro, tem sido a principal aliada das companhias nesses últimos meses para garantir o funcionamento das operações a distância e a saúde de todos os envolvidos.
Mas como manter a cultura organizacional “viva” neste momento de afastamento das equipes? O que os RHs podem fazer para que o distanciamento social – ainda necessário devido à pandemia, – não provoque também um distanciamento coletivo dos valores e da cultura da empresa? É o que vamos discutir agora, confira!
O desafio de trabalhar a cultura organizacional durante a pandemia
Como dissemos em outra oportunidade por aqui, a decisão tomada por muitas empresas de colocar a força de trabalho em home office durante a pandemia gerou uma série de desafios para a área de Recursos Humanos. O departamento, que tem a característica de atuar perto dos profissionais, agora enfrenta diariamente o desafio de continuar se relacionando com os colaboradores e de manter “viva” a cultura da empresa.
“Leva-se muito tempo para se criar uma cultura, que é feita por pequenas ações do nosso dia a dia, pequenos hábitos e frases que, muitas vezes, não damos importância e que criam uma forma de agir no que diz respeito à resolução dos problemas e à convivência, principalmente longe dos olhos dos líderes e responsáveis da empresa. Em momentos de crise, são essas ações que farão toda a diferença, pois a pressão aumenta, além de vários sentimentos e emoções ficarem aflorados. Por isso, é de fundamental importância se trabalhar a cultura organizacional, até porque, quando bem estruturada, ela ajuda todos a caminharem para os mesmos objetivos e propósitos”, analisa Alessandra Punhagui Martins, especialista em gestão de RH e fundadora da Apprimore Consultoria.
Quais os benefícios de manter a cultura organizacional “viva”?
Quando há uma cultura organizacional bem estabelecida, tanto a empresa quanto os próprios colaboradores saem ganhando. De acordo com a especialista em gestão de RH, podemos destacar como principais vantagens:
- Melhora do clima organizacional: afinal, o que é combinado não sai caro. Dessa forma, as relações ficam mais transparentes e verdadeiras;
- Estímulo do senso de responsabilidade em todos
- Motivação da equipe: “neste cenário, deixamos de ter ‘funcionários’ para termos ‘fãs’ das nossas empresas.”
- Redução do turnover: a rotatividade dos funcionários impacta demais as empresas em várias frentes: financeira, na energia de trabalho e, principalmente, na imagem corporativa, isto é, na imagem da empresa como marca empregadora (e muitos empresários não param para pensar nisso)
“Os profissionais estão mudando velozmente por conta do acesso fácil às informações e me pergunto quando as empresas, líderes e profissionais com o poder de tomada de decisão se atentarão para essa mudança e passarão de meros telespectadores para agentes de mudança.”
Como manter a cultura organizacional “viva” em plena pandemia?
Diante dos desafios gerados por uma crise global sem precedentes, não tem jeito: o profissional de RH precisa sair da zona conforto e se colocar numa posição estratégica.
“Somos nós que temos o ‘potencial humano em nossas mãos’. Precisamos sair do papel passivo para o questionador. Entender os objetivos da empresa de forma macro e potencializar as pessoas para que seja possível alcançar cada um deles, além de saber que vivemos em um mundo VUCA (volátil, incerto, complexo e ambíguo) e são as pessoas que darão sentido a isso tudo de forma rápida e assertiva. Tudo isso é cultura!”, afirma Alessandra.
E de acordo com a especialista, um RH passa a ser estratégico quando:
- Tem visão organizacional: enxerga como a empresa está posicionada diante da crise e como é possível direcionar líderes e profissionais para que os problemas sejam superados com o menor impacto possível e o maior número de lições aprendidas;
- Traz novos métodos de trabalhos de acordo com o público da empresa: “estamos passando por tempos que não temos muito tempo para planejar e, quanto mais rápida e assertiva for a entrega, melhor. Gestão ágil é uma saída bem possível.”
- Dá visibilidade e importância para o engajamento: “este tema afeta diretamente o caixa da empresa, visto que pesquisas indicam que, na média global, apenas 16% dos profissionais foram considerados como ‘totalmente engajados’ – 84%, portanto não são.”
- Olha para pessoas como parceiros e não como recursos: “e isso está intimamente ligado a uma nova forma de trabalho, seja ela em home office ou não.”
Acreditar no poder da comunicação
A comunicação tende a ganhar ainda mais força em momentos de crise. Por isso, cabe às empresas utilizá-la da melhor forma possível para fomentar a cultura organizacional agora. E como a comunicação é feita por pessoas e não por departamentos, os líderes têm um papel fundamental, “fazendo a ponte” entre dois elos importantes: funcionários e empresa.
“Estar próximo da equipe também é mandatório, não apenas para cobrar resultados, mas para entender que todos estamos aprendendo uma nova forma de trabalho. Não faço aqui apologia para sermos permissivos, mas, sim, empáticos. É claro que, com isso, o resultado é bem mais assertivo e funcional. O feedback é outro ponto importante, desde que ele seja honesto e tenha uma intenção genuína de ajuda e de correção de rota para o alcance dos objetivos da organização. Enfim, acredito que tudo isso fará com que a engrenagem das empresas não pare e a cultura se solidifique ainda mais”, afirma.
Investir no bem-estar do colaborador
Não dá mais para falar em cultura organizacional e nos objetivos de qualquer empresa sem olhar para o bem-estar dos profissionais, ainda mais em um momento de estresse e instabilidade, tomado por ansiedade, irritabilidade e incertezas.
“Já era sabido há alguns anos que a depressão era o maior índice de afastamento pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) e hoje isso vem à tona com a Síndrome de Burnout. Segundo dados da International Stress Management Association, 33 milhões de brasileiros sofrem com o problema e muitas delas viram seu quadro se agravar durante a pandemia. A pergunta que me faço constantemente é: o que é bem-estar? Para mim, é respeitar a individualidade das pessoas, aceitar os limites e potencializar as suas qualidades e, principalmente, SER HUMANO. Estamos numa era tecnológica e muitas funções se perderam e outras tantas foram criadas, porém, tenho certeza que o contato com o ser humano a máquina não faz e que o bem-estar estará em voga em todos os momentos”, finaliza Alessandra.
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