Equidade, diversidade e inclusão são pautas quentes no mundo corporativo. Os números apontam que 71% dos profissionais brasileiros enxergam as ações focadas em DEI – diversidade, equidade e inclusão – como responsáveis por sua permanência ou não na empresa. A grande porcentagem foi revelada por um estudo conduzido pelo Google Cloud e Kantar, em 2021.
Quando o assunto é igualdade de gênero, a cobrança por programas efetivos que garantam a permanência justa e saudável de mulheres nas empresas vem se tornando cada vez maior. Quem busca criar um ambiente de trabalho acolhedor para as mulheres deve se atentar à nova realidade: o público feminino está deixando seus empregos em proporções nunca antes vistas.
Um estudo global da Gallup descobriu que cerca de 500.000 mulheres a mais do que homens deixaram a força de trabalho durante a pandemia. Só no Brasil, 7 milhões de mulheres deixaram seus postos de trabalho no início do coronavírus – 2 milhões a mais do que o número de homens na mesma situação. E o problema é ainda mais grave nos cargos de liderança.
Nesse Dia das Mulheres, te convidamos a refletir sobre a presença das mulheres no mercado de trabalho e discutir caminhos para a criação de programas que retenham e valorizem os talentos femininos. Vamos lá?
Por que as mulheres estão mudando de emprego?
Tudo bem, tudo bem… Responder a essa pergunta é uma tarefa bem complexa e que exige muita reflexão e análise. Mas o relatório Woman in Workplace 2022 nos dá algumas pistas interessantes. Conduzido pela LeanIn.Org e McKinsey & Company, o estudo ouviu mais de 400 mil pessoas de 810 empresas diferentes entre 2015 e 2022. Foram entrevistadas mulheres de diversas identidades, incluindo mulheres negras, mulheres LGBTQIAP+ e mulheres com deficiência.
A última edição da pesquisa, que é considerada o maior estudo sobre a situação corporativa das mulheres na América, focou na questão das mulheres em cargos de liderança. Com base em todos os relatos, os pesquisadores chegaram a 3 conclusões importantes.
1. Mulheres líderes querem avançar, mas enfrentam ventos contrários mais fortes do que os homens
Mulheres líderes são tão propensas quanto os homens a quererem ser promovidas e aspirar a cargos de alto escalão. Em muitas empresas, no entanto, elas precisam enfrentar diversos obstáculos antes de conquistarem seus objetivos. De acordo com o relatório:
- as mulheres são muito mais propensas do que os homens em cargos de liderança a terem colegas que insinuam que elas não são qualificadas para seus cargos;
- mulheres líderes são duas vezes mais propensas que os homens a serem confundidas com alguém mais júnior;
- mulheres líderes são mais propensas a relatar que características pessoais, como ser mãe, contribuíram para que elas fossem negadas ou preteridas para um aumento, promoção ou chance de progredir.
E sobre esse último tópico em específico, o próprio Google nos detalha alguns indicativos desse cenário nada animador. De acordo com dados da empresa, as buscas por “congelamento de óvulos “ cresceram 89% nos últimos cinco anos e sugerem que, mesmo as mulheres que querem ter filhos, ainda sentem a necessidade de adiar a maternidade por receio de perder oportunidades no trabalho.
A busca por ‘empresas que contratam grávidas’, por sua vez, cresceu 221% entre 2015 e 2017. Já as buscas por “MEI licença maternidade” cresceram mais de 700%, um belo indicativo de que um grande número de mulheres considera abraçar o empreendedorismo depois de serem mães.
2. Mulheres líderes são sobrecarregadas e pouco reconhecidas
Aqui vale deixar claro: o mercado de trabalho não é o único desafio! Afinal, não é novidade pra ninguém que ter um emprego e ser a maior – ou, às vezes, a única – responsável pelos afazeres domésticos e cuidados com a família ainda é a realidade da maioria das mulheres em todo o mundo.
Tanto é que a Organização Internacional do Trabalho (OIT) identificou que as mulheres são responsáveis por três quartos de todo o trabalho não remunerado. E por falar nisso, um levantamento recente da Oxfam mostra que, se fôssemos remunerá-las por suas horas de trabalho em casa, seriam injetados 10 trilhões de dólares na economia mundial.
3. Mulheres líderes estão buscando uma cultura de bem-estar
Por fim, o relatório da McKinsey aponta que as mulheres líderes são significativamente mais propensas do que homens a deixar seus empregos porque querem trabalhar para uma empresa que está mais comprometida com o bem-estar dos colaboradores.
E quando falamos sobre bem-estar no mercado de trabalho, não podemos esquecer dos impactos causados pela COVID-19. Só para termos uma ideia do tamanho do problema, uma pesquisa global da Deloitte aponta que 46% das mulheres estão sofrendo de burnout atualmente. Entre as brasileiras de minoria étnica o número sobe para 54%. Nesse mesmo estudo, 45% das mulheres consideram que as empresas devem promover programas de saúde mental, enquanto 44% consideram necessário ter planos de saúde física.
Ainda de acordo com a pesquisa, 24% das entrevistadas no levantamento global e 20% das entrevistadas no Brasil indicaram que trabalham em organizações com cultura menos inclusiva e de baixa confiança. Em contrapartida, o levantamento também mostrou que mulheres que trabalham para líderes inclusivos relataram níveis muito mais altos de bem-estar e satisfação no trabalho.
Então, que tal olharmos com um pouco mais de atenção para isso?
Precisamos falar sobre o bem-estar das mulheres
Quando falamos de bem-estar, não estamos falando apenas sobre saúde física. De maneira geral e bem resumida, podemos definir o bem-estar com base em cinco grandes elementos:
- bem-estar na carreira: você gosta do que faz todos os dias
- bem-estar social: você tem amizades significativas em sua vida
- bem-estar financeiro: você administra bem o seu dinheiro
- bem-estar físico: você tem energia para fazer as coisas
- bem-estar da comunidade: você gosta de onde mora
O relatório State of the Global Workplace da Gallup, realizado em 2021, aponta que uma vida feliz envolve prosperar em todos estes cinco elementos. E, dentre eles, o bem-estar na carreira é o que tem maior impacto em uma vida bem vivida. E quando o estresse tira as mulheres da força de trabalho, o bem-estar da carreira é o primeiro elemento a sofrer.
Historicamente, as mulheres sempre relataram maior esgotamento no trabalho do que os homens. Porém, essa diferença aumentou ainda mais durante a pandemia da COVID-19. Em 2019, 30% das mulheres e 27% dos homens disseram que “sempre” ou “muitas vezes” se sentiram esgotados no trabalho. Essa diferença de três pontos percentuais aumentou para 12 pontos depois da pandemia.
O grande problema é que, muitas vezes, o bem-estar é descartado no mundo dos negócios porque é considerado algo muito pessoal e, assim, fica de fora da esfera profissional. Mas, como já vimos, o bem-estar é sim um fator crítico do desempenho geral das mulheres no local de trabalho. Colaboradoras prósperas, engajadas e satisfeitas são mais felizes e impactam positivamente os resultados em sua empresa.
Recomendações para as empresas
Quem busca um progresso significativo e saudável em direção à igualdade de gênero deve considerar o foco em dois objetivos amplos: reter as mulheres que já possuem e colocar mais mulheres na liderança. E isso exigirá esforços, programas e práticas que vão além do básico.
Empresas com melhor representação feminina e que oferecem uma constelação de benefícios para melhorar as experiências de trabalho no dia a dia das mulheres vão mais longe.
E não somos apenas nós que estamos afirmando: uma pesquisa realizada em 2019 pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), com 13.000 organizações de 70 países, mostrou que 60% das empresas aumentaram sua lucratividade em até 20% graças ao trabalho de mulheres em cargos de gestão. Além disso, essas empresas conseguiram aprimorar indicadores como desempenho, captação de novos talentos e criatividade, fatores essenciais para alavancar qualquer negócio.
Repensar e atuar na cultura interna e investir em programas efetivos de bem-estar são alguns dos steps essenciais para quem deseja criar oportunidades expressivas para as mulheres e reter os talentos femininos nos diferentes setores da organização, sobretudo nos cargos de chefia.
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