
A Geração Z é, sem dúvida, um dos tópicos mais discutidos nas reuniões de liderança e RH da atualidade. Rotulados como “o futuro do trabalho”, eles já são o presente, representando quase 30% da força de trabalho atual. Nativos digitais, ágeis e movidos por propósito, chegaram ao mercado questionando estruturas e acelerando transformações.
No entanto, os dados do Check-up de Bem-estar 2025 da Vidalink pintam um quadro muito mais complexo.
O maior estudo sobre bem-estar corporativo do Brasil, que ouviu mais de 11.600 profissionais de 250 empresas, revela um alerta claro: a Geração Z é a mais insatisfeita com o bem-estar geral.
Para ir além dos dados, convidamos Erick Sales, especialista em Geração Z e fundador da Criaz, para analisar esses achados. E a resposta dele é clara: o problema não é a geração; é a frustração com o sistema e a falta de preparo das lideranças.
Check-up de Bem-estar 2025: o que os dados revelam?
Os dados do Check-up de Bem-estar 2025 são impossíveis de ignorar:
- 30% da Geração Z estão insatisfeitos com seu bem-estar geral, o maior índice entre todas as gerações.
- Eles lideram os índices de sentimentos negativos: 72% das mulheres e 51% dos homens da Geração Z relatam ansiedade, angústia ou falta de vontade na maior parte dos dias.
Mas o que está por trás desses números? Seria essa geração “mais frágil” que as anteriores? Ou será que, pela primeira vez, uma geração está sendo totalmente transparente sobre as falhas de um sistema que não a atende mais?
A Geração mais ansiosa é a que menos se cuida?
O primeiro grande insight do estudo é um paradoxo. Como vimos, a Geração Z lidera os sentimentos negativos. No entanto, os dados também mostram que eles são a geração que mais declara “não fazer nada” para cuidar da saúde mental (39% dos homens e 35% das mulheres).
Como interpretar isso? Se eles são a geração que “mais fala” sobre saúde mental, por que são os que menos agem?
Para Erick Sales, a resposta começa na quebra do tabu e na dura realidade econômica. Ele não vê os sentimentos negativos como um sinal de fraqueza, mas de honestidade.
“Vale compreender que essa juventude brasileira cresceu em um cenário onde as discussões sobre saúde psicológica passavam por uma normalização, deixando de ser tabu, assim como os questionamentos sobre o mundo corporativo”.
A barreira econômica: por que eles “não fazem nada”?
Essa abertura, no entanto, colide com uma nova realidade. Segundo Erick, essa percepção de insatisfação é “fruto de uma maior abertura para falar sobre o tema, movida pela frustração de não conseguir atender o que antes era compreendido como paradigmas de sucesso, como possuir um imóvel ou um carro”.
A geração Z, diz ele, “possui poder de compra reduzido num cenário de hipervalorização de bens”. É aqui que o paradoxo da inação se resolve. Não é falta de vontade de se cuidar; é falta de meios. A barreira financeira é o principal impedidor.
“Vejo o fator econômico como um grande impedidor: apesar de reconhecermos que há problemas e falarmos abertamente, buscar ajuda profissional custa, e o poder de compra nem sempre acompanha“.
Erick traz um dado de mercado assustador que ilustra essa barreira: “Um reflexo interessante é olhar que, no Brasil, mais de 12 milhões de pessoas utilizam o Chat GPT como psicólogo: mostrando que há desejo de buscar ajuda, mas uma clara dificuldade de encontrá-la de maneira acessível”.
Geração Z não é um bloco único: o peso da interseccionalidade
Um dos erros mais comuns, segundo Erick, é tratar a Geração Z como um bloco monolítico. A realidade, especialmente no Brasil, é muito mais complexa e desigual.
“Em um país como o Brasil, em que a Gen Z representa 55 milhões de cidadãos, somos tão diversos quanto desiguais, e a conversa não deve ser generalizada”.
O Check-up de Bem-estar 2025 comprova essa tese. As disparidades raciais dentro da Geração Z são gritantes e expõem como o “ponto de partida” não é o mesmo para todos.
A desigualdade racial na “dupla jornada”
Vejamos o dado da “dupla jornada”. O estudo revela uma dinâmica social preocupante:
- Quando a dupla jornada é Trabalho + Casa, jovens pretos e pardos (23%) são maioria (vs. 16% de brancos).
- Quando a dupla jornada é Trabalho + Estudo, o cenário se inverte: brancos (31%) superam pretos e pardos (26%).
Para Erick Sales, o dado não surpreende: “Quando falamos em racismo estrutural, é importante entender que nossa nação ainda possui dinâmicas sociais que sistematicamente afastam pessoas pretas e pardas dos centros de poder, sejam econômicos ou acadêmicos”.
Essa desigualdade estrutural, segundo ele, não é “falta de vontade, mas sim falta de oportunidades e possibilidades”.
O impacto dessa desigualdade se espalha por todos os pilares do bem-estar. O estudo mostra que, na Geração Z, 42% dos jovens pretos e pardos não fazem nada para cuidar da saúde mental (contra 29% dos brancos). Eles também são os que reportam maior insatisfação com o sono (35% vs 27% dos brancos).
A solução não é generalizar, é capacitar a liderança
Se a Geração Z é mais aberta sobre suas frustrações e as empresas ainda operam em modelos antigos, onde está o ponto de ruptura? Para Erick Sales, ele está no choque cultural com a gestão.
O problema, segundo ele, não é a busca por resultados. “O problema nunca foi a busca pelo resultado e produtividade, mas sim a roupagem pouco sustentável e predatória que, por vezes, essa busca adota”.
A Geração Z, que “iniciou a carreira profissional durante a pandemia, em isolamento social, é mais difícil aceitar as dinâmicas de politicagem e liderança inacessível que muitas companhias adotam”.
O que, então, define uma liderança que realmente se conecta com esses jovens e apoia seu bem-estar? A resposta de Erick é o que ele chama de “Gestão Geracional”.
“Uma liderança que conecta com a Gen Z é a que não busca obrigar os jovens a se adaptarem aos dogmas corporativos, mas sim entender como incorporar seus questionamentos de maneira a flexibilizar a rotina e criar ambientes saudáveis”.
O erro comum: “Gestão Geracional” como solução
O maior erro dos gestores atuais? “Um erro comum que vejo é descredibilizar jovens somente pela idade, como se todo apontamento fosse ‘júnior demais’ para ser levado a sério. Todas as gerações têm muito a ensinar, mas há de se querer aprender” .
Para a Geração Z, o bem-estar não é um benefício; é um “não negociável”. E o que eles mais valorizam, segundo Erick, são “ambientes com liderança humanizada – entender que não existe um muro entre a vida pessoal e a profissional e que uma impacta na outra”.
O que o RH deve fazer amanhã?
Os dados do Check-up de Bem-estar 2025 são um alerta claro para as empresas: não podemos mais tratar o bem-estar da Geração Z como um problema “deles”. A insatisfação, a ansiedade e a inação são, em grande parte, sintomas de um descompasso cultural, econômico e de gestão.
Como Erick Sales aponta, a solução não é criar mais benefícios superficiais, mas sim capacitar as lideranças para uma gestão mais humana e flexível.
Para ver todos os dados sobre a Geração Z e os outros recortes de gênero e raça, baixe agora o Check-up de Bem-estar 2025.








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