Liderança em prol da saúde mental. O que aprendi a enxergar através da webcam durante 15 meses de pandemia
Por Luis Gonzalez
Pense bem: o que faz você reconhecer quando alguém está realmente bem? Um sorriso? O tom de voz? A forma de falar? O olhar vívido? Recentemente completamos 15 meses de pandemia “oficial” e, como CEO de uma welltech de bem-estar corporativo, parei para refletir como isso impactou a saúde mental de todos à minha volta, nos mais variados círculos de relacionamento e como precisamos fazer um esforço adicional para identificar seus efeitos a distância.
À frente da Vidalink, lidero uma equipe de mais de 170 colegas que também acreditam no propósito de levar bem-estar e qualidade de vida para os colaboradores, e seus dependentes, das empresas no Brasil. O que vejo é que a resiliência nunca foi tão importante. Pudemos aprender sobre esse tema observando nossos pares no dia a dia e perceber como uma base de apoio é fundamental para superar os desafios. Essa base pode vir das fontes mais distintas e, muitas vezes, pode estar no próprio ambiente de trabalho.
Ao longo desse período, vi meus colegas comemorarem ocasiões especiais sem terem a chance de abraçar seus entes queridos, transmitindo o amor através de uma webcam. Também vi pessoas se distanciarem de suas famílias por medo e pelo mais profundo instinto de proteção. Mães se desdobrando entre papéis para continuar desempenhando suas funções, dentro e fora do lar, sem nenhum roteiro de como fazê-lo. Vi conhecidos perderem seus empregos se reinventarem da noite para o dia para conseguir dar conta de suas responsabilidades. E, acima de tudo, minha fé na humanidade aumentou ao ver pessoas, em seus momentos de profunda tristeza, serem reconfortadas por amigos e familiares.
Esperança em dias melhores. É justamente essa capacidade do ser humano de acreditar que nos move. O problema é quando não conseguimos encontrá-la sozinhos. É nesse momento que precisamos de ajuda. Muitas pessoas perdem a perspectiva e a esperança. A pandemia nos mostrou isso claramente, como a falta de possibilidade de planejar o futuro mexeu com a saúde de muita gente.
Na Vidalink, nos deparamos o tempo todo com o embate sobre o equilíbrio entre corpo e mente, no equilíbrio entre vida pessoal e profissional, para não deixar nenhum pilar de bem-estar cair. Falamos abertamente sobre saúde mental, derrubando o estigma sobre o tema. Fazemos pesquisas frequentes e perguntamos, com interesse genuíno, como as pessoas estão se sentindo. Fazemos eventos com especialistas para ampliar os conhecimentos e apoiamos as pessoas quando precisam de ajuda. Além disso, subsidiamos o custo de medicamentos prescritos para viabilizar seus tratamentos. Acreditamos que essas ações fazem a diferença nas vidas dos nossos colaboradores e o nosso desejo é ampliá-las para o maior número de pessoas no Brasil.
Vencer o estigma e falar abertamente sobre a saúde mental é o primeiro passo. Mas como fazer isso numa sociedade em que você precisa mostrar que está bem o tempo todo? Quando falta empatia? É aí que mora o perigo. Quando incentivamos a cultura da “vida que segue” sem perceber quando as pessoas realmente precisam de ajuda para seguir em frente, corremos o risco de estimular um comportamento perigoso: a negação e a negligência com a própria saúde. E essa conta custa caro para todos, pois afeta todas as relações, sejam elas pessoais ou profissionais.
“Sem conexões verdadeiras não existe como realmente apoiar as pessoas. Isso serve para todas as relações, sejam elas pessoais ou profissionais”
Nem todo mundo está pronto, apoio é fundamental
Transformar a vida das pessoas consiste em ouvir, acolher, ter empatia e estender a mão quando você percebe que alguém está sofrendo, precisando de um ombro ou de uma palavra de conforto. Mas às vezes também é necessário encorajar a pessoa a buscar o tratamento com um profissional de saúde. É importante fazê-lo por aqueles que amamos e nos importamos, pois nem todo mundo está pronto para dar o primeiro passo sozinho.
Minha provocação é: o que você está fazendo para estender a mão àqueles que não estão encontrando sozinhos o caminho para se cuidar? Você como gestor, tem olhado para os “seus” e buscado uma forma de ampliar não só a consciência, mas o suporte sobre o tema para suas equipes? Como você tem oferecido ajuda para aqueles que têm passado por desafios? E aqueles que você acredita terem superado suas tristezas com resiliência, será que estão realmente bem?
“Transformar a vida das pessoas consiste em observar, ouvir, acolher, ter empatia e estender a mão quando você percebe que alguém pode estar sofrendo, precisando de um ombro ou possivelmente de apoio especializado. É necessário derrubar o estigma e falar abertamente sobre os possíveis caminhos a serem tomados, incluindo as vantagens de falar com um profissional de saúde.”
Convido a olharmos para além das barreiras digitais e enxergarmos o estado emocional de quem nos cerca, porque assim seremos capazes de criar conexões verdadeiras. Desta forma, podemos apoiar as pessoas a vencer o estigma da saúde mental, a falar sobre seus sentimentos e emoções além de reconhecer os sinais de quem pode estar precisando de ajuda, mas ainda não percebeu sua própria situação.
Não se esqueça, cada pessoa é única. Nosso papel é enxergá-las e dar suporte para que sejam a melhor versão de si mesmas. Comece pela expressão facial. O que ela diz? Observe o entusiasmo, está presente? Acompanhe o tom de voz. A postura corporal, o discurso de esperança, o desejo de fazer planos. Pergunte com interesse genuíno “como você está se sentindo? ” Um ser humano complexo e incrível está do outro lado. Se você ainda não conseguiu se conectar com essa pessoa, que tal começar agora?
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