Jornadas exaustivas, metas agressivas, volume elevado de trabalho e cobrança excessiva. Todos esses fatores culminam no que chamamos, hoje, de Síndrome de Burnout, um mal que afeta milhões de colaboradores em todo o mundo e chama cada vez mais a atenção das empresas.
Em alta de uns tempos pra cá, o termo cunhado pelo psicólogo alemão Herbert J. Freudenberger em 1974 refere-se ao esgotamento físico e mental causado pelo excesso de trabalho. Apesar disso, muita gente ainda confunde o problema com quadros comuns de cansaço.
“Sentir-se insatisfeito, em algum momento da vida, com a carreira escolhida, profissão e ambiente de trabalho, pode ser comum a todos nós, ainda mais em um mercado competitivo. Porém, quando isso se torna excessivo e vem acompanhado de sintomas recorrentes, deve-se considerar o diagnóstico da Síndrome de Burnout”, afirma Luciane Vecchio, psicóloga e especialista em RH.
Quais os sintomas da Síndrome de Burnout?
Como dissemos, os sinais da Síndrome de Burnout são específicos e mais intensos do que um mero cansaço. De forma geral, um colaborador com o problema:
- Mesmo em férias, não consegue descansar e se “desligar” da empresa, sentindo-se desmotivado para aproveitar os momentos de lazer e relaxamento;
- Não encontra prazer ao realizar suas atividades profissionais, muitas vezes aquelas que, em algum momento, geravam prazer;
- Entende que tem uma rotina exaustiva, que não traz benefícios e recompensas, o que gera baixa autoestima e desesperança;
- Tem um sentimento de incapacidade e incompetência ao realizar tarefas cotidianas no ambiente de trabalho;
- Considera seu empenho no trabalho sempre abaixo da média, o que gera sofrimento e sensação de inadequação;
- Falta ao trabalho por excesso de enfermidades em geral;
- Sente-se sobrecarregado, mesmo quando está fora do ambiente de trabalho;
- Mostra vontade constante de pedir demissão ou sente que será despedido;
- Sente-se excessivamente cansado, mesmo depois de horas de sono;
- Apresenta irritabilidade, falta ou excesso de sono e falta de apetite;
- Começa a usar, em excesso, medicamentos, drogas e/ou álcool;
- Tem falhas de memória e dificuldade de concentração;
- Não consegue controlar sua rotina de trabalho;
- Isola-se de familiares e amigos.
Não à toa, Luciane Vecchio destaca que “a infelicidade contínua reduz a motivação das pessoas de realizar atividades alheias ao trabalho, paralisando a vida em todas as áreas.”
Ou seja, a Síndrome de Burnout degrada a vida do colaborador em todos os âmbitos. Por isso, ele tende a apresentar também transtornos psicológicos, como estresse, ansiedade e depressão, problemas gastrointestinais, queda de produtividade, dores pelo corpo, fadiga crônica, desmotivação, pressão alta, enxaquecas e arritmia.
Como evitar esse quadro de saúde nas empresas?
Empresas e, especialmente os RHs, devem desenvolver um trabalho sério voltado à prevenção da Síndrome de Burnout em suas equipes.
Confira, a seguir, o que pode ser feito nesse sentido.
Investir em uma gestão humanizada
A gestão humanizada deve ser primordial nas organizações, já que trabalha o lado mais pessoal de cada indivíduo. É papel dos gestores e líderes estarem sempre próximos e abertos para conversar e entender os desafios de cada trabalhador.
“Muitos profissionais ainda escondem a doença por medo de serem demitidos e ficam cada vez mais doentes. Mas isso tem mudado, pois não cabe ao RH o papel punitivo ou controlador. Um RH humano levará os colaboradores a confiarem em suas ações e a compreenderem que podem se abrir”, ressalta a psicóloga.
Trabalhar com benefícios corporativos de acordo com necessidades reais
Os benefícios corporativos são parte de um programa eficaz na prevenção da Síndrome de Burnout e outras doenças relacionadas ao trabalho. Investir em pesquisas para identificar cada necessidade e formatar programas que sejam adequados a cada funcionário dará o suporte ideal a eles.
“Tobogãs e piscinas de bolinha podem ser boas formas de desestressar e gerar ambientes mais descontraídos e descolados, todavia, não são suficientes. Ações de cuidado com o time devem ser expandidas a níveis mais profundos, levando em conta as necessidades individuais de cada colaborador. Ou seja, um verdadeiro olhar para o ser humano precisa ser incentivado”, recomenda Luciane.
Fazer pesquisas para avaliar o sentimento do colaborador em relação a empresa
As pesquisas de avaliação da empresa direcionadas ao funcionário fornecem bons parâmetros para avaliar como ele percebe a organização e se sente ali dentro. Essas avaliações detalham como o profissional carrega em si necessidades e percepções sobre o ambiente de trabalho.
A partir desses dados, a gestão de RH deve buscar programas que se alinhem aos colaboradores, aumentando o seu engajamento e motivação individual.
Implantar benefícios que incluam programas de saúde mental
Além de aplicar benefícios corporativos que tragam melhorias em todas as esferas internas, as organizações devem focar na saúde mental de seu time. “Algumas empresas já contam com equipes de psicólogos que estão a postos para cuidar da saúde emocional do seu capital humano e isso têm gerado resultados excelentes. Para isso, o RH precisa levantar a bandeira da capacitação das lideranças na identificação e em como lidar com as diferentes síndromes”, analisa Luciane Vecchio.
Como a Síndrome de Burnout deve ser tratada?
Gestores devem sempre avaliar o colaborador juntamente com um psicólogo para que possa ser feito um diagnóstico assertivo e o encaminhamento do trabalhador a um tratamento adequado, de acordo com o estágio da doença.
Em casos mais leves e moderados, a terapia e mudanças no estilo de vida contribuem para a recuperação. Já em quadros mais severos, o encaminhamento ao psiquiatra é indicado, assim como o uso posterior de medicamentos.
“Cuidados médicos, psicológicos e psiquiátricos devem ser associados, principalmente para se entender qual o grau da doença e compreender qual é o melhor tratamento. Atividade física e exercícios de relaxamento também são recomendados para apoiar no controle dos sintomas”, afirma a especialista.
Além disso, a troca de experiências com pessoas que estejam passando pela mesma situação deve ser estimulada. “Um grupo de apoio será muito útil para complementar os tratamentos convencionais”, conclui.
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