Depois de quase um ano de trabalho home office, fica difícil encontrar alguém que não tenha se familiarizado com as famosas videoconferências, bastante utilizadas desde o início da pandemia pelas empresas que buscaram dar continuidade às suas atividades e manter o contato com colaboradores e clientes sem comprometer o distanciamento social. Mas como “nem tudo são flores”, a utilização desse recurso tem provocado o chamado “zoom fatigue”, termo adotado por profissionais de saúde mental (psicólogos e psiquiatras) para definir quadros de fadiga decorrentes da realização excessiva de reuniões virtuais.
Não à toa, uma pesquisa realizada pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria) junto aos seus associados constatou que 56,1% dos psiquiatras afirmaram que houve um crescimento no número de queixas de seus pacientes sobre o excesso de trabalho por videoconferência.
Mas quanto isso pode impactar na saúde mental dos colaboradores? O que pode ser feito para evitar esse tipo de problema? Confira!
O que é “zoom fatigue”?
Como dissemos acima, “zoom fatigue”, ou fadiga do zoom, é o termo que está sendo utilizado por psicólogos e psiquiatras para definir a sensação de cansaço extremo descrita pelos pacientes devido ao excesso de videoconferências. Ele tem relação direta com a ferramenta online Zoom, solução que passou a ser amplamente utilizada para realização de reuniões virtuais. Essa definição veio da Associação Brasileira de Psiquiatria após a pesquisa citada anteriormente, realizada com os psiquiatras associados entre os dias14 de agosto e 21 de novembro.
No levantamento, além da constatação do aumento de queixas sobre o uso excessivo das reuniões virtuais, 63,3% dos profissionais notaram um aumento no número de prescrição de psicotrópicos, ou seja, de remédios controlados.
Somado a isso, 70,1% identificaram a necessidade de prescrever psicoterapias para os pacientes que apresentavam quadros de “zoom fatigue”.
Alexandre Fachini, psicólogo clínico e professor dos cursos de graduação e pós-graduação de Psicologia da UNIARA, destaca que os principais sintomas relacionados ao problema são:
- Dor de cabeça;
- Dor nos olhos;
- Dores musculares, especialmente nas costas, braços, pernas e nos músculos da face;
- Sonolência;
- Desatenção;
- Cansaço;
- Insônia;
- Estresse;
Mas como o “zoom fatigue” afeta a saúde mental dos colaboradores?
Para Alexandre Fachini, com o “zoom fatigue”, pode-se observar, de forma geral, “uma perda da qualidade de vida e da produtividade no trabalho, com sinais de prejuízo nas relações sociais e afetivas, além de irritabilidade, rebaixamento de humor, isolamento, tristeza, entre outros sentimentos”, destaca.
Além disso, vale lembrar que as videoconferências tiram a privacidade dos colaboradores. O home office obrigou muitos, do dia para a noite, a adaptarem os seus lares para continuar com suas atividades profissionais. No entanto, é preciso lembrar que nem todos dispõem de um ambiente adequado para isso. Por mais que a reunião virtual seja agendada e o profissional se prepare para isso, o vídeo acaba mostrando parte da sua vida particular, eliminando a separação que havia antes entre trabalho e casa.
Somado a esse ponto, há a presença de outros membros da família que também estão cumprindo o distanciamento social e podem comprometer sua atuação profissional.
Outro fator que leva ao “zoom fatigue” e compromete a saúde mental dos colaboradores é o horário. Infelizmente, muitas empresas deixaram de dar importância para o cumprimento da carga horária de trabalho, que antes era bem definida, e passaram a marcar reuniões em períodos totalmente diferentes dos tidos como habitual.
Com isso, houve uma perda dos limites da relação entre vida profissional e vida pessoal, além de um aumento no total de horas trabalhadas. Essa nova condição, somada ao cansaço e estresse dos colaboradores, compromete o seu período de descanso e, consequentemente, o seu bem-estar, o relacionamento com a família e até a sua produtividade.
E o que pode ser feito para evitar o “zoom fatigue”?
O “zoom fatigue” é uma condição nova, nunca antes identificada pelos profissionais da área de saúde mental. Por isso, assim como outras questões e costumes modificados pela pandemia, é preciso análise e posicionamento das empresas e gestores.
Uma forma de evitar o problema é diminuir o número de videoconferências, ou seja, realizar os encontros virtuais somente quando for estritamente necessário.
Além disso, é fundamental respeitar a carga horária de cada profissional, tendo como parâmetro os dias e horários que ele cumpria quando atuava presencialmente. É importante destacar que cabe às empresas acompanhar a saúde e bem-estar dos profissionais, mesmo de longe.
“A falta de planejamento e de organização para a tão necessária e impositiva mudança da rotina de trabalho do presencial para o remoto configuram as principais causas do zoom fatigue”, ressalta Fachini.
Dessa forma, para evitar quadros desse tipo, o especialista recomenda:
Para o colaborador:
- Faça reuniões curtas (entre 25 e 50 minutos) e necessárias, ou seja, que precisam ser por videochamada. Caso possível, prefira e-mails e/ou ligações;
- Evite fazer outras atividades paralelas durante uma reunião, pois isso interfere no desempenho e dificulta lembrar das informações posteriormente. Por isso, nada de abrir outras guias da internet, tais como e-mails, textos, vídeos, mensagens do WhatsApp, etc;
- Se puder, desligue a câmera em alguns momentos em reuniões muito extensas e dê um descanso para os olhos e para a cabeça;
- Faça atividades físicas ao longo da semana, como, por exemplo, meditação e alongamento, ou pratique um hobby que não precise da tela do computador.
Para a empresa:
- Dê intervalos entre as reuniões e/ou diminua o tempo dessas conversas, tornando-as mais objetivas;
- Crie espaços coletivos, por via remota mesmo, com uma interação diferente do formato de uma reunião. Ou seja, momentos de descontração com conversas informais, e de relaxamento, como meditação guiada ou outras interações;
- Ofereça aos colaboradores a oportunidade de escuta e de acolhimento por profissionais especializados e líderes, mostrando-se próximos, disponíveis e interessados no seu bem-estar.
Existe tratamento para o “zoom fatigue”?
Por se tratar de algo novo, que se configurou a partir do distanciamento social imposto pela pandemia do novo coronavírus nos últimos meses, ainda não existem tratamentos específicos para o “zoom fatigue”. Um dos motivos é que não se trata de uma doença, mas, sim, de uma condição de exaustão, decorrente de um mau uso da tecnologia, no sentido daquilo que suportamos.
“A questão aqui é o tempo de tela e a forma como nos relacionamos durante esse uso, incluindo outras distrações e tarefas, que comprometem ainda mais a já delicada situação provocada. As orientações anteriores me parecem um bom início para enfrentamento da questão. Além disso, caso haja, diante da dificuldade em lidar com a situação, ou mesmo do aparecimento de outros sintomas desse desgaste (tais como problemas de sono, de apetite ou de humor), pode ser interessante buscar ajuda profissional, pois, nesse caso, é possível que estejamos falando de uma doença chamada Síndrome de Burnout. Embora semelhante ao ‘zoom fatigue’, por ser decorrente de uma exaustão a partir do trabalho, a Síndrome de Burnout é muito diferente, pois apresenta, de forma associada, sentimentos negativos como frustração, desvalorização, entre outros”, conclui.
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